Deu a lógica. O Carnaval do Rio de Janeiro resolveu premiar este ano duas escolas que usaram e abusaram do direito de refletir sobre a situação atual do país. A Beija Flor de Nilópolis foi a grande campeã, mas a Paraíso de Tuiuti ficou em segundo lugar com um enredo polêmico que denunciou na avenida o Brasil de Temer e o golpe no governo Dilma.
O enredo da Beija Flor, também polêmico, foi questionado por alguns críticos, que consideraram que a escola exagerou na dose, fazendo um carnaval mais realista e menos alegórico. A escola entrou na avenida com o enredo “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”, do carnavalesco Cid Carvalho, aproveitando os 200 anos do romance “Frankenstein”, de Mary Shelley, para fazer um paralelo com as mazelas brasileiras.
O enredo fez uma extensa crítica à sociedade brasileira, incluindo o campo político e a intolerância religiosa. Alegorias falando sobre o excesso de impostos, desigualdade social, criminalidade e pobreza foram destaques. Um carro alegórico simbolizou ainda a corrupção na Petrobras, na classe política e entre empresários. A violência também foi representada, com cenas de assalto, vítimas de balas perdidas e policiais feridos. Tinha mais: havia ainda uma mesa representando um grande banquete, tendo homens com guardanapos na cabeça em volta, fazendo uma alusão às famosas fotos da “farra dos guardanapos”, na qual o ex-governador Sérgio Cabral reuniu empresários e secretários num jantar de luxo, em Paris.
Já a Paraíso de Tuiuti fez um Carnaval que gerou muita repercussão nas redes sociais. Seu enredo fez críticas a reforma trabalhista, perda de direitos sociais dos trabalhadores no governo Temer, ironizou os manifestantes que pediram o impeachment de Dilma na ala Manifestoches, os que bateram panelas, os patos patrocinados pela Fiep e no último carro um vampiro neoliberal, numa alusão do presidente Temer. O desfile da Tuiuti deixou os apresentadores da Globo numa saia justa, que ficaram sem saber como comentá-lo. O Jornal Nacional tentou consertar a indiferença dos apresentadores no desfile com uma ampla matéria sobre as escolas que exploraram temas sociais, incluindo a Tuiuti.
Linaldo Guedes
linaldo.guedes@gmail.com