Aliados políticos do governador Ricardo Coutinho (PSB) já trabalham com a hipótese dele ficar sem fichas e ter que cruzar os braços na hipótese de um segundo turno da eleição à sua sucessão este ano, que deverá pautar-se pelo confronto entre o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do PSD, e o senador José Maranhão, do MDB. Embora tenha espaços para apoiar Maranhão, a quem elogia nas entrevistas, Ricardo não terá motivação maior para um engajamento na finalíssima pelo fato de que não deverá se candidatar ao Senado, bem como pela circunstância de que seu candidato, João Azevedo (PSB) terá um desempenho pífio. Por último, Maranhão é dirigente estadual de um partido que a nível nacional se empenhou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), até como estratégia para ascender à presidência, como se deu com Michel Temer, o ex-vice da petista. Ricardo posicionou-se contra o impeachmeent e tem criticado Temer.
Embora Temer não deva ter influência nas eleições estaduais, seria desconfortável para Ricardo apoiar o candidato de um partido a quem ele atribui orquestração para o impeachment, por mais que o senador Maranhão não tenha tido visibilidade nos bastidores dessa operação. Já começa a ganhar corpo, entre discípulos do próprio gestor socialista, a tese de que ele deverá repetir o falecido governador Tarcísio Burity, que na disputa à sua sucessão, em 1990, ficou a ver navios no segundo turno, travado entre Ronaldo Cunha Lima (então PMDB), vitorioso, e Wilson Braga (PDT). Numa célebre declaração à revista A Carta, já extinta, Burity foi enfático ao definir sua postura: Nem Braga nem Ronaldo. O ex-governador queixava-se de estar sendo atacado impiedosamente pelos dois postulantes e tomou como afronta uma declaração de Ronaldo rejeitando-o no palanque. Parentes de Burity, como o sobrinho Ivan, que se elegera deputado federal, afirmaram não poder impedir que correligionários seus votassem em Ronaldo. O deputado estadual eleito Roberto Burity, o vereador Ricardo Burity (ambos sobrinhos do governador Tarcísio) e Antonio Burity, tio dos dois e prefeito do município de Ingá, alegaram razões e conveniências locais para votar em Ronaldo apesar das pressões para se abster.
As conjunturas de 1990 e 2018, conforme observadores e analistas políticos paraibanos, guardam semelhanças, apesar de peculiaridades distintas. Burity havia rompido com o PMDB comandado pelo senador Humberto Lucena, atritou-se com parlamentares federai e estaduais, enfrentou dificuldades financeiras insanáveis de imediato e acabou se filiando ao PRN, legenda pela qual Fernando Collor concorreu à presidência e venceu em segundo turno, derrotando Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro turno, na Paraíba, Burity lançou a candidatura do deputado federal João Agripino Neto, que migrara para o PRN. João teve votação expressiva junto a segmentos de classe média e virou fiel da balança no segundo turno, quando declarou apoio a Ronaldo, desacompanhado de Burity, que cruzou os braços.
Há quem diga que, na atual conjuntura, falta a Ricardo Coutinho um PRN ou um PL para desovar dissidentes que não querem ficar de fora do embate do segundo turno, possivelmente entre Luciano Cartaxo e José Maranhão. O PL foi um partido alternativo que Burity incentivou na Assembleia Legislativa para compensar perdas de apoios dentro do PMDB, partido que passou a desembarcar do seu governo por orientação de Humberto Lucena. O que incomodava Burity, em especial, na campanha de 90, foi a imagem da gangorra que Ronaldo passou a explorar, insinuando cansaço do eleitorado com a alternância entre Braga e Burity no governo do Estado. Burity foi vítima de uma armadilha das urnas a vigência do segundo turno, além de erros pontuais cometidos na relação com adversários e até com aliados políticos, o que levou ao rompimento do Grupo da Várzea com sua gestão. A aposta em João Agripino Neto, curiosamente, produziu resultados positivos inesperados, mas a postura de João, fechando com Ronaldo no segundo turno, fez com que Burity se desinteressasse pelo desfecho do pleito. Ele deixou o Palácio sem fazer o sucessor e sem passar o cargo a Ronaldo Cunha Lima, que teve como vice o ex-senador Cícero Lucena.
Nonato Guedes