O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD), que tornou pública hoje a decisão de não concorrer ao governo estadual em outubro, chegou a empreender maratona de visitas a municípios de diferentes regiões do Estado a pretexto de intercâmbio administrativo, que lhe possibilitaria expor projetos e experimentos em desenvolvimento na Capital paraibana e, ao mesmo tempo, inteirar-se de iniciativas executadas no âmbito dessas localidades para suposto aproveitamento nos programas em João Pessoa. Uma das últimas cidades visitadas, nesse contexto, foi a de Cajazeiras, terra natal de Maísa, mulher de Luciano, natural da vizinha cidade de Sousa, e cuja prefeitura é atualmente administrada por José Aldemir Meireles, do PP.
O secretário Zennedy Bezerra, entre outros, teve papel decisivo na preparação do roteiro de deslocamentos do gestor da capital ao interior paraibano, e medidas acauteladoras foram tomadas com vistas a evitar o caráter pré-eleitoreiro. Nas entrevistas habitualmente concedidas, quando indagado a respeito dos contatos e de seus possíveis dividendos eleitorais, Cartaxo descaracterizava o sentido de propaganda subliminar, enfatizando a importância do relacionamento entre gestores, independente de siglas partidárias, para a discussão de parcerias. Nos bastidores, entre aliados do prefeito, alegava-se que o itinerário serviria como teste importante para projetar sua imagem além da ponte do rio Sanhauá, situada região metropolitana de João Pessoa.
Adversários políticos de Luciano Cartaxo, especialmente auxiliares do governador Ricardo Coutinho, chegaram a fustigar as incursões do alcaide e a ameaçar, inclusive, o recurso à Justiça Eleitoral para exercer vigilância que coibiria abusos eventualmente detectados. A algumas das viagens de Luciano incorporava-se o deputado federal Rômulo Gouveia (PSD), presidente estadual do partido e responsável pela filiação de Luciano à legenda, com a garantia de espaços para ser candidato a governador na hipótese de preencher requisitos de popularidade ou aceitação. Rômulo sempre realçou o fato de que Cartaxo estava conduzindo uma gestão empreendedora, de resultados, à frente da prefeitura de João Pessoa, conseguindo assegurar recursos para investimentos e execução de obras mesmo quando foi hostilizado abertamente pela gestão Ricardo Coutinho. O prefeito reeleito de João Pessoa iniciou trajetória política nos quadros do Partido dos Trabalhadores, pelo qual se elegeu vereador na Capital e, posteriormente, deputado estadual.
Figurou numa chapa ao governo do Estado em 2006 com José Maranhão, ex-PMDB, atual MDB, na cabeça. Os dois enfrentaram o tucano Cássio Cunha Lima como principal adversário e foram derrotados no segundo turno. Foram chamados a investir-se na titularidade em fevereiro de 2009 quando a Justiça Eleitoral embarrgou a continuidade da permanência de Cunha Lima no exercício do mandato. Abstraindo episódios passados, Luciano Cartaxo sempre foi um político de trãnsito fácil entre correntes políticas variadas. Ainda hoje, o ex-senador Marcondes Gadelha, presidente estadual do PSC, que nas últimas horas aceitou manter entendimentos com o senador José Maranhão para uma aliança com o PSC, renovou elogios a Luciano Cartaxo como um quadro valoroso no cenário político emergente no Estado, lamentando que ele tenha aberto mão da possibilidade de estar presente no jogo sucessório majoritário deste ano. No reverso da medalha, Cartaxo passou a ser queimado por ex-companheiros petistas que se alinharam com o governador Ricardo Coutinho. Mas ao deixar os quadros do PT para assinar ficha no PSD, ele não figurava em nenhuma acusação grave. E deixou claro que não se sentia na obrigação de assumir a defesa de ex-companheiros do PT, inclusive, de projeção nacional, que foram presos ou indiciados em processos referentes a escândalos financeiros que passam pelo caixa dois.
Nonato Guedes