A desistência do atual prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD) em concorrer ao governo do Estado, oficializada em carta e entrevista coletiva à imprensa, provocou nos meios políticos uma analogia inevitável com a desistência de outro Luciano (Agra), que também foi prefeito da Capital e abriu mão de disputar um mandato municipal em 2012 por ter sido rifado dentro do PSB, liderado pelo governador Ricardo Coutinho. Agra foi vice de Ricardo na chapa deste à reeleição a prefeito, em 2008 por coincidência, o vice de Ricardo na disputa a prefeito em 2004 foi Manoel Júnior, atual vice de Luciano Cartaxo e filiado ao MDB. Luciano Agra, um técnico-urbanista de reconhecida competência, assumiu a titularidade da prefeitura de João Pessoa com a renúncia de Ricardo Coutinho para concorrer e vitoriar ao governo do Estado em 2010.
Em 2012, Agra tentou se viabilizar como postulante natural à reeleição como prefeito da Capital, mas não era o candidato in pectoris do governador eleito Ricardo Coutinho, que a esta altura manifestava preferência pela candidatura da jornalista e secretária de Comunicação Estelizabel Bezerra. Luciano Agra decidiu esgotar o desafio da sua escolha como candidato a prefeito dentro do PSB, mas o governador Ricardo Coutinho, que manejava os cordéis do partido, infligiu derrota ao ex-vice em convenção interna, onde Estelizabel foi homologada. Agra ainda fez gestões, incentivado pelos mais próximos, para viabilizar o queremismo, que seria o símbolo da sua continuidade na prefeitura. Mas em termos de partidos estava sem opção. Restou-lhe a opção de concluir o mandato originalmente encampado por Ricardo. E, como represália, declarar apoio à chapa Luciano Cartaxo-Nonato Bandeira, que foi eleita em segundo turno derrotando o ex-senador Cícero Lucena, do PSDB. Pouco tempo depois Agra faleceu, mas já haviam sido ensaiados passos para uma reaproximação sua com Ricardo, que o lançou na política. Nonato Bandeira, aliado de Agra no apoio a Cartaxo, foi substituído na chapa deste em 2016 por Manoel Júnior e reatou ligações com o governador Ricardo Coutinho, de quem é chefe de Gabinete. Presidente estadual do PPS, Bandeira planeja ser candidato a deputado federal numa coligação com o PSB do governador, que já lançou a pré-candidatura de João Azevedo ao governo. Azevedo é secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos.
No caso da desistência de Luciano Cartaxo em concorrer ao governo, ele vinha sendo alvo, enquanto ameaça, do próprio governador Ricardo Coutinho, que ironizava pontos da administração em João Pessoa. Mas em 2014, o irmão gêmeo de Luciano, Lucélio Cartaxo, candidatou-se ao Senado com simpatias no núcleo ricardista e obteve votação expressiva, sendo derrotado, contudo, por José Maranhão, que apresentou ao eleitorado seu histórico na vida pública, incluindo três vezes como governador. O que se diz entre aliados de Luciano Cartaxo hoje é que a desistência dele em concorrer ao governo foi provocada pelo chamado fogo amigo, oriundo do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSDB, e do senador José Maranhão, que se lançou pelo MDB e vinha sendo elogiado em entrevistas pelo governador Ricardo Coutinho, como parte da estratégia deste em dividir as oposições. O futuro político de Luciano, em termos pessoais, torna-se uma incógnita, e, em tese, dificilmente ele voltará a figurar como alternativa ao governo do Estado. Quem está em prantos, por assim dizer, é o deputado federal Rômulo Gouveia, presidente estadual do PSD, que apostou tudo na vitória de Luciano ao governo e agora volta a ficar dependente do esquema Cunha Lima.
Os cartaxistas mais ortodoxos atribuem a uma orquestração perigosa e amplificada a causa da desistência do prefeito em levar adiante a candidatura a governador, englobando no pacote desde o senador José Maranhão ao clã Cunha Lima, passando pelo Palácio da Redenção com o espírito belicoso e divisionista de Ricardo Coutinho. Mas até mesmo entre aliados ou simpatizantes de Luciano Cartaxo há a leitura de que a sua postulação ao governo nunca foi consistente. Até parece que ele não queria unidade, queria unanimidade, provoca, em off, um dos expoentes do cenário local. A iniciação partidária de Luciano foi no PT, mas até ali ele enfrenta resistências por falta de posições mais firmes, segundo os adversários.
Nonato Guedes