Uma carta divulgada pela assessoria do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD), na manhã desta quinta-feira, em que o alcaide comunica ter desistido de ser candidato ao governo do Estado nas eleições de outubro, repercute como uma bomba nos meios políticos. A decisão de Cartaxo, que foi cristalizada em cima das divergências na chamada frente de oposições ao esquema do governo do Estado, embaralha completamente o jogo e, em certa medida, zera a equação à sucessão de Ricardo Coutinho (PSB). Coincidentemente, ontem, em Campina Grande, o governador, filiado ao PSB, que tem sido pressionado por correligionários a renunciar ao cargo para disputar uma vaga ao Senado e fortalecer a pré-candidatura do secretário João Azevedo ao governo, afirmou, enigmaticamente que é apaixonado por governar o nosso Estado, traindo um certo desalento pela perspectiva de ter que deixar o cargo para o qual foi reeleito.
Reeleito para um novo mandato como prefeito da Capital no primeiro turno das eleições de 2016, Luciano Cartaxo, cujo vice é o ex-deputado federal Manoel Júnior, do MDB, dá a entender na correspondência liberada que não nutre ambição política a qualquer custo e menciona as articulações de que participou, em clima democrático, sobre a hipótese de partir para a disputa ao governo dentro da perspectiva de imprimir uma nova realidade administrativa no Estado. Nas entrelinhas, pontua que não se tratava de uma aspiração intransigente, de cunho personalista, mas de pretensão associada a um projeto mais amplo que unificasse outras forças políticas empenhadas em resgatar práticas e atitudes que, na sua opinião, não estão em uso no modelo administrativo estadual paraibano. A pretensa candidatura de Luciano a governador esbarrou inicialmente em pretensões idênticas no PSDB e no MDB, de quem esperava apoio. No primeiro caso, o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, mobilizou-se ostensivamente para ser candidato próprio. Ultimamente parecia ceder a ponderações, concordando com o apoio a Luciano. A imprensa registrou que a doutora Micheline Rodrigues, mulher de Romero, comporia a chapa de Cartaxo como candidata a vice, mas em paralelo ganharam força versões de lançamento da candidatura do próprio senador Cássio Cunha Lima a governador. Apesar do desmentido de Cássio, a posição de Luciano continuou vulnerável.
O bombardeio maior, no entanto, adveio, conforme fontes políticas, do senador José Maranhão, presidente estadual do MDB, que não só avançou nas negociações para firmar sua própria candidatura ao governo, como passou a bater em Luciano, a pretexto de cobrar reciprocidade dele em virtude do apoio emedebista à sua reeleição em 2016. Como se fosse um ensaio combinado, ao bombardeio maranhista somou-se uma ruidosa orquestração do governador Ricardo Coutinho (PSB), para dividir e desmoralizar segmentos de oposição, atingindo, sobretudo, o prefeito Luciano Cartaxo. Os entendimentos mantidos em Brasília pelo senador Maranhão com o ex-senador Marcondes Gadelha (PSC), conterrâneo de Luciano, teriam colhido Cartaxo de surpresa e sido encarados como manobra divisionista para esvaziar a candidatura do prefeito de João Pessoa. O cenário, agora, é totalmente nebuloso, reagiu um deputado da base governista estadual, ao comentar, em off, a desistência de Luciano Cartaxo em postular o governo em outubro. A grande expectativa se volta para o posicionamento das demais lideranças envolvidas no processo.
Nonato Guedes