O processo de escolha de candidatos a vice-governador na conjuntura política paraibana costuma envolver interesses de grupos, ocasionar disputas acirradas e até registrar momentos dramáticos. Foi o que aconteceu em 94 por ocasião da escolha do companheiro de chapa de Antônio Mariz, que bateu nas urnas a ex-deputada Lúcia Braga. Houve emulação entre bancadas federal e estadual no arco de forças que apoiava Mariz – a primeira indicou o nome de José Maranhão para companheiro de chapa de Mariz, então filiado ao PMDB e a bancada estadual optou pela escolha do ex-presidente da Assembleia Legislativa, Carlos Dunga, oriundo da Arena-PDS. Mariz bateu o martelo em favor de Maranhão e Dunga, que havia planejado candidatar-se a deputado federal, reativou às pressas o dispositivo de suporte para essa pretensão, logrando sair vitorioso.
O processo só não foi mais traumático nem gerou sequelas incontornáveis porque Mariz agiu com antecedência na definição de preferências, de forma a que Dunga não fosse prejudicado em outras ambições. Numa confraternização na casa do senador Humberto Lucena em Brasília, presentes inúmeros líderes políticos, Mariz confessou a este repórter e aos jornalistas Paulo Santos e Walter Santos que não tinha nada de pessoal contra Dunga, mas o fato de ambos terem sido originários da Arena poderia servir de exploração por parte dos adversários com o intuito de desgastá-lo. Por outro lado, dizia ter mais afinidades de posturas com Maranhão, a quem respeitava por ter sido cassado pelo movimento militar de 64 devido ao seu apoio à Frente Parlamentar Nacionalista. Dunga assistiu, a uma certa distância, na casa de Humberto, à conversa entre Mariz e os jornalistas. Seguiu, então, este repórter, até um hotel de Brasília, em busca de confirmação sobre a preferência de Mariz. Explicou, então, que precisava da notícia para poder delinear sua estratégia de sobrevivência, que passava pela candidatura à Câmara Federal. O desfecho é conhecido dos paraibanos: a chapa Mariz-Maranhão foi vitoriosa e Dunga figurou entre os eleitos à Câmara dos Deputados.
Desde 1982, quando as eleições diretas a governador foram restauradas, as articulações para escolha de candidatos a vice recaíam sobre empresários que pudessem fornecer logística financeira aos cabeças de chapa ou políticos que representassem regiões interioranas e que reforçassem os titulares. Wilson Braga, eleito em 82, tinha como vice o empresário José Carlos da Silva Júnior, do Grupo São Braz e com ramificações em Campina Grande. Em 86, Tarcísio Burity ungiu como vice o tribuno Raymundo Asfora, que tinha prestígio em Campina, mas que foi encontrado morto na granja Uirapuru nos arredores de Campina faltando poucos dias para a posse, num caso rumoroso que ainda hoje divide opiniões sobre assassinato ou suicídio. Ronaldo Cunha Lima, que sucedeu a Burity, surpreendeu a todos apresentando como vice o empresário Cícero Lucena, da construção civil em João Pessoa, que nunca disputara cargos eletivos mas participava de articulações nos bastidores dentro do antigo PMDB. Cícero acabou assumindo o governo por dez meses quando Ronaldo se desincompatibilizou para concorrer ao Senado. Depois, Lucena foi prefeito da Capital duas vezes, Secretário de Políticas Regionais com status de ministro no governo de Fernando Henrique Cardoso e, finalmente, senador.
A mulher de Cícero, Lauremília, natural de Sousa mas com forte atuação assistencialista na periferia de João Pessoa, foi escolhida por Cássio Cunha Lima para sua vice na disputa de 2002. Em 2006, ao postular a reeleição, Cássio trocou Lauremília pelo então deputado estadual José Lacerda Neto, indicado pelo ex-PFL (atual DEM). Os dois acabaram cassados pela Justiça Eleitoral já no final do mandato, em fevereiro de 2009 sob acusação de conduta vedada e uso indevido da máquina administrativa. Maranhão, que foi tríplice coroado, tornando-se governador por três vezes, foi vice de Mariz e teve como vices Roberto Paulino, na eleição de 98, e Luciano Cartaxo, na de 2006. Em 2010, teve como vice Rodrigo Soares, então presidente estadual do PT. Ricardo Coutinho, que derrotou Maranhão em 2010, tinha como vice Rômulo Gouveia, então ligado ao clã Cunha Lima, que depois rompeu com o gestor socialista.
Em 2014, quando derrotou Cássio ao governo, Coutinho tinha como vice a doutora Lígia Feliciano, mulher do deputado federal Damião Feliciano, presidente do diretório do PDT na Paraíba. Lígia foi escolhida na undécima hora, praticamente faltando 15 dias para a eleição e, ultimamente, foi preterida por Ricardo na pretensão de concorrer ao governo e assumir a titularidade do mandato com a renúncia dele. Coutinho lançou como candidato do esquema à sua sucessão o técnico João Azevedo, secretário de Infraeestrutura e Recursos Hídricos. Não há sinalização sobre quem poderá ser vice, mas especula-se que Coutinho poderá atrair para a chapa de Azevedo o irmão gêmeo do prefeito da Capital, Lucélio Cartaxo, do PSD, que é cogitado tanto ao Senado quanto à vice-governança. Luciano, como se sabe, há uma semana desistiu de ser candidato a governador, alegando desunião e falta de segurança sobre o apoio de forças oposicionistas à sua pré-candidatura.
Nonato Guedes