Um grito ecoa em uníssono, hoje, em diferentes regiões do Brasil, por ocasião de manifestações que celebram o transcurso do Dia Internacional da Mulher: Basta de Violência. O cotidiano das agressões que as mulheres ainda sofrem no país, nas ruas e dentro de casa, apesar dos avanços nas políticas públicas e nas medidas constantes em Lei, é o mote principal e a bandeira que mulheres de todas as idades e gerações empalmam, com o objetivo de conscientizar a sociedade, em definitivo, sobre a urgência de interromper uma guerra onde só elas estão morrendo. O jornal Correio da Paraíba, em sua versão impressa, destaca números alarmantes. A cada dia, mulheres são vítimas de armas de fogo, de assédio nas ruas e no trabalho, de perseguições, espancamentos e violência física. Já a revista Istoé focaliza um aspecto positivo: nunca as mulheres foram tão fortes como agora. Elas se tornaram a principal força de transformação do mundo atual e isso se reflete no trabalho e nas relações sociais, informa uma circunstanciada reportagem da publicação.
As mulheres lutam, também, por participação mais efetiva na atividade política, vencendo o machismo de cúpulas partidárias. No livro Mulher e Política na Paraíba, de Glória Rabay e Maria Eulina Pessoa de Carvalho, há o registro de avanços obtidos depois de décadas de dominação masculina. A partir das eleições gerais de 82, quando pela primeira vez, desde o golpe militar, se elegeram governadores estaduais, a questão da mulher teve espaço nos discursos eleitorais e nos programas políticos oficiais. Os governos estaduais eleitos criaram as primeiras políticas públicas específicas para a população feminina, como os Conselhos dos Direitos da Mulher e as Delegacias Especializadas. Em todo o país, em 82, oito mulheres foram eleitas para a Câmara Federal e 28 para as Assembleias Legislativas estaduais. Na Paraíba, nenhuma mulher se candidatou à Câmara Federal e quatro concorreram à Assembleia Legislativa. Vani Braga, do PDS, foi vitoriosa, tornando-se a primeira deputada estadual eleita na Paraíba. Era irmã do governador Wilson Braga, eleito no mesmo sufrágio. Em 86, deram-se eleições para a Assembleia Nacional Constituinte. Entre as deputadas federais eleitas estava a paraibana Lúcia Braga, esposa do ex-governador eleito em 82. Na Constituinte, ela integrou a bancada do batom, formando ao lado de representantes femininas de outros Estados que ergueram um paredão contra retrocessos que políticos conservadores desejavam impor.
A ascensão das mulheres na política e em outras esferas foi se acentuando paulatinamente na sociedade paraibana. A desembargadora Fátima Bezerra Cavalcanti foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado. Lauremília Lucena foi vice-governadora, fazendo parte da chapa encabeçada por Cássio Cunha Lima e eleita em 2002. A atual vice-governadora do Estado é a médica Lígia Feliciano, do PDT, esposa do deputado federal Damião Feliciano, presidente da agremiação. Houve mulheres que se candidataram ao Senado, mas não lograram êxito, como Cozete Barbosa, na eleição de 1998. Foi a partir dos anos 90 que houve uma maior participação feminina na política, notadamente em âmbito municipal. A coroação, no plano nacional, deu-se em 2010 com a vitória de Dilma Rousseff para a presidência da República, apoiada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dilma acabou sendo também a primeira mulher presidente a sofrer um impeachment, no início do segundo mandato, a pretexto de praticar pedaladas fiscais consideradas ilegais pelo Tribunal de Contas da União. A luta por espaços continua e invariavelmente produz resultados positivos, a exemplo da ascensão de Cármen Lúcia Antunes da Rocha à presidência do Supremo Tribunal Federal.
No rol das deputadas estaduais eleitas na Paraíba nos últimos anos figuram Eurídice Moreira da Silva, Edina Wanderley, Estefânia Maroja, Francisca Motta, Gianina Farias, Iraê Lucena, Lúcia Braga, Lucinha Monteiro, Olenka Maranhão, Socorro Marques, Nadja Palitot, Maria do Rosário Sarmento Leite (Zarinha). Atualmente destacam-se deputadas estaduais como Camila Toscano, do PSDB, e Daniella Ribeiro, do PP. Na Câmara Federal, recentemente, atuou a deputada Nilda Gondim, mãe do ex-senador e atual ministro do TCU, Vital do Rêgo Filho, e do deputado federal Veneziano Vital do Rêgo, que foi prefeito de Campina Grande por dois mandatos.
Nonato Guedes