O governador Ricardo Coutinho (PSB) enfrenta um fim de segundo governo tumultuado, isolado entre as demais forças políticas do Estado e até pontuado por declarações infelizes, como a de que há políticos que estão com um pé na cova, ostentando mais de 80 anos, mas não largam a ambição pelo poder. Os correligionários do senador José Maranhão, pré-candidato ao governo pelo MDB, tomaram essas declarações como uma referência ao parlamentar, que conta com 84 anos de idade e que garante ser novamente candidato ao Palácio da Redenção por ter aprovação e apoio de filiados emedebistas. O ex-presidente do diretório regional do partido, Antônio Sousa, que integra a Executiva do MDB, reagiu: Muita gente gostaria de ultrapassar os 80 anos com uma vida de probidade, de lisura, com mais de 60 anos de vida pública sem uma mancha em seu currículo, sem nunca ser acusado de improbidade e nunca ter sido acusado de receber dinheiro da Lava Jato.
Diante da polêmica e da repercussão negativa, a assessoria de Ricardo tentou dar outra forma às declarações feitas, garantindo que não se dirigiram a Maranhão e que o governador respeita a folha de bons serviços prestados pelo senador, que exerceu a chefia do Executivo estadual em três oportunidades. Mas, a essa altura, desculpas e “remendos” advindos do oficialismo não sensibilizam nem mesmo aliados do governador Ricardo Coutinho. Em off, algumas fontes definem que Coutinho começa a sentir o banzo do poder que deixará em breve e tenta ser diferente de todos os outros políticos, como projeção da sua vaidade pessoal acintosa. Ainda recentemente, o gestor chegou ao desplante de se considerar fundador da Paraíba, ao insinuar que a história do Estado em termos administrativos deve ser contada antes e depois da sua passagem pelo cargo, remetendo-se a comparações hilárias dos oponentes com a célebre numeração A.C e D.C (Antes de Cristo e Depois de Cristo, ajustada na Paraíba para Antes de Coutinho e Depois de Coutinho). O governador jacta-se de deter uma suposta liderança política imbatível, mirando-se nos exemplos em que derrotou nas urnas José Maranhão e Cássio Cunha Lima, que já foram aliados seus e que não suportaram prolongar a convivência por mais tempo devido ao personalismo marcante no perfil do gestor.
Ricardo sempre foi conhecido pelo prazer mórbido de até humilhar pessoas, inclusive aliadas, tal como fez com o falecido prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, a quem impediu de se candidatar à reeleição dentro do PSB de João Pessoa. Ultimamente tem se esmerado em cortar os passos da vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, cuja lealdade ao governador é indiscutível e extremada. Ricardo, que foi buscar Lígia em Campina Grande para compor sua chapa faltando 15 dias para o prazo fatal de registro, não quer nem ouvir falar na hipótese de Lígia ser candidata à sua sucessão, muito menos com o seu apoio. Já botou na cabeça que o candidato de sua confiança para dar continuidade ao seu projeto é o executivo João Azevedo, secretário de Recursos Hídricos e Infraestrutura, cuja competência técnica é reconhecida mas que politicamente não decola em pesquisas até porque nunca disputou mandato eletivo. João esteve na agulha para ser candidato a prefeito de João Pessoa, mas foi preservado por Ricardo supostamente para ser candidato ao governo. Está cumprindo o papel de pré-candidato dentro do figurino que o chefe repassou, mas não consegue empolgar as bases do PSB nem outras forças políticas eventualmente aliadas a Ricardo.
O governador já havia cortado os passos do deputado estadual Gervásio Maia Filho, um dos mais promissores quadros políticos do Estado, presidente da Assembleia Legislativa, que se colocou como opção para disputar o governo, já que é também filiado ao PSB. Hoje, com o veto imposto por Ricardo, Gervásio cuida da sua campanha a deputado federal, em que já desponta como um dos mais votados na próxima eleição. Em relação a Lígia, Ricardo se exaspera por não poder ter ingerência nas suas decisões. Ela é filiada ao PDT, presidido na Paraíba pelo seu marido, o deputado federal Damião Feliciano. Os dois já anunciaram disposição de apoiar a candidatura do ex-ministro Ciro Gomes a presidente da República, enquanto Ricardo reitera preferências pela candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sujeito à prisão, já que foi condenado a doze anos de prisão, e, consequentemente, passível de inelegibilidade na disputa à vista.
Por não querer transferir o resto do mandato a Lígia é que Ricardo vem anunciando não ser candidato ao Senado, embora cortejado para tanto por correligionários que o encaram como um reforço na disputa. Alega-se que outros fatores, não revelados, impedem Ricardo de se lançar à campanha pelo Senado. O fato é que, se não for candidato, ele dará um jeito de tentar atrapalhar a sorte política de outras figuras como a vice-governadora Lígia Feliciano. Senhor dos anéis e da Razão, que não erra nunca, por ser infalível, como ele dá a entender, Ricardo tem se atritado, também, na reta final, com movimentos sociais e do funcionalismo público, pela falta de diálogo. Especula-se que o seu grande sonho é voltar à prefeitura de João Pessoa. A dúvida, após sua saída do Palácio da Redenção, será aferir se Coutinho ainda terá prestígio político para tanto.
Nonato Guedes