Um movimento liderado por artistas e agentes culturais questiona a falta de espaço para a música paraibana na Rádio Tabajara, emissora oficial do Estado. Já houve uma reunião para discutir o assunto e uma nova reunião está agendada para a próxima quarta-feira, às 18 horas, na Praça da Alegria, da UFPB.
“A preocupação maior deste movimento é o de fortalecer o cenário cultural paraibano e a própria população. Uma rádio que tenha, de fato, a cara da Paraíba pode contribuir para a elevação da autoestima de seu povo e o fortalecimento das identidades culturais paraibanas. Este deveria ser o compromisso maior desta Rádio e é isso que busca a contribuição que este movimento quer dar”, destaca o relatório da última reunião.
O texto foi publicado na íntegra na página de Alexandre Santos no facebook. Participaram da reunião o próprio Alexandre, além de Escurinho, Nélio Torres, Júlio Mola, Ryan Roots, Felipe Kariri e Katarina Nepomuceno.
Confira abaixo o manifesto:
Fizemos um intenso debate sobre a atual situação da Rádio Tabajara. Há o reconhecimento de que esta é uma rádio que se diferencia das demais rádios em nível estadual, pois ainda veicula alguma produção de música paraibana. Contudo, alguns pontos foram identificados como cruciais para a melhoria na rádio:
– Por ser uma rádio pública e ter seu financiamento ligado ao Governo do Estado, seu parâmetro jamais deve ser o das rádios comerciais. Nem em termos de programação ou de gestão.
– Hoje a rádio opera numa proporcionalidade entre música local e nacional que desprivilegia um possível lugar de destaque para a música paraibana. Por não ter amarras mercadológicas, sua proporção deveria ser a de 3 músicas paraibanas para cada 1 música nacional executada.
– Por que a Rádio Tabajara mantém até hoje um programa dominical completamente dedicado a Roberto Carlos? Em que Roberto Carlos contribui para o desenvolvimento cultural da Paraíba? Por que tanta dedicação para se pagar Direitos Autorais a Roberto Carlos e a outros artistas consolidados da música brasileira?
– Inverter a lógica quer dizer, necessariamente, ampliar o leque de artistas paraibanos que hoje tocam nesta rádio. Hoje, ainda que se identifique uma certa música paraibana tocando na Rádio Tabajara, também se percebe uma concentração de artistas nesta programação, ou seja, alguns (os mesmos) artistas paraibanos tocam na rádio, e não um amplo leque de artistas hoje existentes produzindo música dos mais variados gêneros. A produção musical paraibana é grandiosa, mas sua inserção na programação da Rádio não está à altura, ainda é pouco diante daquilo que é produzido.
– A completa inexistência de espaço na grade de programação para a Cultura Popular é perceptível e constrangedora. A maior riqueza cultural da Paraíba permanece fora das atenções da Rádio Tabajara, que esquece dos/das mestres, dos grupos populares, muitos dos quais já possuem discos gravados. Cadê a Cultura Popular na programação da Rádio? Cadê os mestres sendo convidados para dar entrevista? Cadê debates sobre a Cultura Popular paraibana?
– A música paraibana tocada na Rádio não está apenas concentrada em alguns artistas, mas ainda pior, permanece concentrada na produção da capital. Cadê a musicalidade produzida nas diversas regiões paraibanas?
– Se Rádio Tabajara é mantida através da arrecadação do estadual, ou seja, mantida pela sua população no pagamento direto de impostos, por que seu alcance permanece limitado? Os paraibanos de outras regiões não tem direito a acessar a Rádio Tabajara? Quais investimentos estão sendo feitos no sentido de ampliar o seu alcance? O que se vê hoje é que esta Rádio não chega nem na Borborema, quanto mais no Sertão e outras regiões.
– A campanha que atualmente veicula artistas declarando que sua música toca na Rádio Tabajara não se reverteu, de fato, na inserção de todos os artistas que emprestaram a sua imagem para fortalecer a Rádio (apenas alguns, ou seja, de forma concentrada). Esta campanha paralisou os artistas e, hoje, já não se sustenta, tendo em vista que os artistas estão percebendo que suas vinhetas tocam mais do que suas próprias músicas. Essa situação é altamente desrespeitosa, pois a Rádio faz uso da imagem de artista bem intencionados, que pensavam estar contribuindo para a Rádio, mas não cumpriu com o que prometeu;
– Uma rádio pública precisa operar sob outra lógica que a diferencie das rádios comerciais, sendo estas concentradoras, integrantes de oligopólios midiáticos, diretamente subordinadas a oligarquias locais. Esta mobilização de artistas e agentes culturais é também um grito por democracia na Rádio Tabajara, rádio pública, mantida com o dinheiro público a partir do orçamento estadual, mas cuja gestão é completamente concentrada na mão da gestão. Em tempos em que as políticas públicas avançaram no que concerne a ideia de gestão compartilhada, a Rádio Tabajara permanece sem um Conselho de Programação ou Curador ou de Gestão. Sendo assim, a sociedade civil, os movimentos culturais e sociais não participam de nenhuma instância de gestão e decisão compartilhada, pois esta inexiste.
Conclusão:
– Este movimento de questionamento da atual situação da Rádio Tabajara é levado por artistas e agentes culturais que são também OUVINTES ASSÍDUOS da desta rádio. Argumentos como a deslegitimar tais críticas vem na contramão do debate democrático e da postura republicana que a gestão de uma rádio pública deve tomar, estando aberta a ouvir os reclames da população, dos movimentos organizados e, principalmente, do movimento cultural local, composto por artistas que querem ver a Rádio Tabajara ser melhorada.
– A preocupação maior deste movimento é o de fortalecer o cenário cultural paraibano e a própria população. Uma rádio que tenha, de fato, a cara da Paraíba pode contribuir para a elevação da autoestima de seu povo e o fortalecimento das identidades culturais paraibanas. Este deveria ser o compromisso maior desta Rádio e é isso que busca a contribuição que este movimento quer dar.
– Como encaminhamento, será produzida uma carta com 10 pontos de reivindicação para a Rádio Tabajara. A carta está sendo construída e aberta a adesão de artistas, agentes culturais e população em geral. Será realizado um ato público de entrega desta carta e a tentativa de diálogo com a atual gestão.