O ex-juiz Márlon Reis, um dos autores da Lei da Ficha Limpa, saudada como ponto de partida para renovação no cenário político brasileiro mediante punição aos corruptos, decidiu ingressar na política. Ele se filiou à Rede, partido da ex-ministra Marina Silva, e deverá disputar o governo do Tocantins nas eleições de outubro. Na condição de advogado, Márlon Reis opinou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é inelegível pela circunstância de estar impedido, nos termos da Lei da Ficha Limpa, de concorrer a mandatos eletivos, tendo em vista que responde a processos e já sofreu duas condenações.
Márlon alerta que ele próprio pode vir a se tornar um ficha suja se incorrer em práticas consideradas perniciosas pela Lei. Nascido em 1959 e ex-titular da Quinquagésima Oitava Zona Eleitoral do Maranhão, Márlon ficou conhecido como um dos articuladores da coleta de assinaturas para o projeto popular que resultou na Lei da Ficha Limpa. Foi o primeiro juiz a impor aos candidatos a prefeito e vereador revelar os nomes dos financiadores de suas respectivas campanhas, antes da data da eleição.
Também notabilizou-se como um dos fundadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, de abrangência nacional, que reuniu 50 das mais importantes organizações brasileiras, congregando 330 comitês espalhados por todo o país. Em 2004 foi agraciado com o prêmio do Instituto Innovare, o mais importante da magistratura brasileira, na categoria Juiz Individual, em reconhecimento às suas práticas pela melhoria da legislação eleitoral no Maranhão. É autor dos livros O Gigante Acordado e O Nobre Deputado.
Reis esteve em João Pessoa para debate com políticos e lançamento de O Nobre Deputado, descrito como um relato chocante e verdadeiro de como nasce, cresce e se perpetua um corrupto na política brasileira. A obra partiu da preocupação do jurista com o absurdo das eleições brasileiras. Um senador afirmou-lhe que o resultado de qualquer eleição brasileira já estava definido muito antes do encerramento da votação, muito antes da abertura das urnas. A vontade do eleitor individual, segundo proclamou, não vale nada no processo. O que conta é a quantidade de dinheiro arrecadado para a campanha vencedora, que usa a verba num infalível esquema de compra de votos. Arrecadou mais, pagou mais. Pagou mais, levou. Simples assim. Claro que a arrecadação se dá por expedientes muito distantes da legalidade e de qualquer noção de lisura, detalhou Márlon Reis. Hoje, ele acentua que seu interesse é o de contribuir efetivamente para a moralidade do processo político através de outros mecanismos inibidores da corrupção e da compra de votos ou do uso da máquina pública.