O ex-governador Ivan Bichara Sobreira, cujo centenário de nascimento será celebrado em maio com uma programação de eventos em João Pessoa, Guarabira e Cajazeiras, sua terra natal, nunca escondeu o desapontamento com o que chamou de traição de companheiros da antiga Arena em 1978, quando deixou o Palácio para concorrer ao Senado. Embora não citasse nomes, Bichara tinha mágoas do esquema dissidente liderado pelo ex-ministro João Agripino Filho e pelo ex-deputado Antônio Mariz. Ambos manifestaram apoio, nos bastidores, à candidatura de Humberto Lucena, do MDB. Individualmente, Bichara teve mais votos que Humberto, mas este venceu com o concurso de duas sublegendas que Ivan não teve e que foram ocupadas, na chapa emedebista, por Ary Ribeiro, com atuação em Campina Grande, e João Bosco Braga Barreto, oriundo do Sertão, mais precisamente da mesma terra de Ivan.
Eu não fiz nada para merecer uma traição tão grande, desabafou Ivan, tempos depois, numa entrevista ao jornalista Severino Ramos para o jornal O Norte, inserida em livros sobre política e poder na Paraíba. Bichara estava afastado há algum tempo do cenário político paraibano, radicando-se no Rio de Janeiro, depois de ter sido deputado pela Paraíba. Na sucessão de Ernani Sátyro em 1974-75, Bichara foi o preferido na chamada eleição indireta, patrocinada pelo poder federal em Brasília. Mesmo com o caráter de quase nomeação, Ivan se submeteu à disputa interna. As dissidências fortes eclodiram quando da indicação de Tarcísio Burity para a sua sucessão e da própria candidatura de Bichara ao Senado. O ex-governador nunca mais voltou a postular cargos políticos, embora se mantivesse inteirado dos acontecimentos e fizesse manifestações esparsas sobre fatos da conjuntura.
Numa das entrevistas que concedeu, Bichara comentou a restauração do pluripartidarismo lamentando a inexistência de um partido que enfocasse a problemática do Nordeste como prioridade. Não se tratava, para ele, de criar um partido regionalista. Seria um partido nacional, priorizando a temática nordestina, com proposições voltadas para a superação das desigualdades econômicas e sociais. A correção de Ivan para com o movimento militar que, já regime, ungiu seu nome para o governo do Estado, foi explicitada abertamente em várias intervenções suas, sobretudo, na imprensa. No discurso proferido na Assembleia Legislativa, em João Pessoa, em 74, ao ser homologado governador, definiu: Venho com o espírito desarmado e o coração isento para ajudar a Paraíba.
Nonato Guedes