Durante quase 20 anos comandado na Paraíba pelo Sargento Dênis, o Partido Verde, que agora é liderado pelo prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, teve um deputado polêmico que na década de 90 assumiu ter sido dependente de drogas e defendeu abertamente a liberação da maconha com o argumento de que ela abreviaria a dependência de pacientes da morfina. Tratava-se de Aristóteles Agra (Tota), que ingressou no PV em 89 quando era presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano da Câmara Municipal de Campina Grande. Chegou à Assembleia por uma sigla partidária minúscula e com os votos, principalmente, do bairro de Zé Pinheiro obteve ali cinco mil dos 7.912 sufrágios na eleição de 94. Filho do ex-deputado Everaldo Agra, do PDS, partido estigmatizado por ter dado sustentação política ao regime militar, Tota foi recusado pelo PT. Funcionário do Fisco estadual, abandonou o curso de Engenharia Química faltando um semestre para se diplomar, por estar num estágio avançado de dependência das drogas.
Tota foi o primeiro político paraibano eleito deputado pelo Partido Verde, que despontou na esteira do fim da ditadura militar e que incorporou a questão das drogas à sua plataforma graças a uma iniciativa do ex-jornalista e ex-deputado Fernando Gabeira (RJ), baseado em experiências assimiladas no exterior, onde se encontrava exilado. Como candidato a vereador, Agra baseou suas bandeiras na questão do meio ambiente. Por essa época, a ecologia estava na pauta de agremiações políticas distintas. Ele evitou, como candidato a deputado, abordar a questão das drogas, mas, já eleito, pugnou a descriminalização da maconha. O ex-deputado, já falecido, disse numa entrevista a Naná Garcez para a extinta revista Bastidores que desenvolveu o vício das drogas quando estava n o Exército Brasileiro. Em 1975, era soldado e havia no Brasil todo uma vitamina produzida por multinacionais, glucoenergan, na verdade um psico-estimulante bastante consumido em festinhas de jovens. O então deputado paraibano, já falecido, possuía no currículo cursos de Toxicologia e se dizia preparado para qualquer debate envolvendo drogas químicas.
O deputado argumentou com episódios históricos a sua defesa daquela bandeira. Salomão, na Bíblia, usava maconha, com o nome de Kálamo. A rainha Vitória, da Inglaterra, mantinha um especialista que estudou maconha durante 30 anos e recorria à erva em casos de epilepsia e glaucoma, que é o aumento da pressão intra-ocular. Tota Agra verberou, nesse depoimento, contra figuras do próprio meio artístico que condenavam o uso da maconha como Carlos Vereza. Aqui na Assembleia vi muitos deputados com caixas de Lexotan, então, as pessoas têm que encarar a questão de forma positiva e claramente. Há uma música do Chiclete com Banana falando do roupinol dando um beijo na menina com gosto de roupinol que é uma droga perigosíssima, um flúordiazepan de duas gramas. Eu tive uma experiência de drogas, tenho sequelas diversas, sou uma pessoa doente e jamais queria que ninguém usasse drogas. Ou, então, que tenha consciência, explanava na entrevista a Naná Garcez.
Nesse período, o atual governador Ricardo Coutinho (PSB) era vereador por João Pessoa e, por ser formado em Farmácia, tinha informações para um debate sério a respeito, o que levou Agra a dizer que iria procura-lo para uma discussão conjunta sobre a questão. Hoje, mais do que nunca, a legalização das drogas está na pauta de políticos e especialistas.
Nonato Guedes