Político carismático, com uma vasta biografia na vida pública, de vereador a governador, passando por deputado federal, deputado estadual e senador, o poeta Ronaldo Cunha Lima, já falecido, optou por decidir, num comício a céu aberto em Campina Grande em 86, pela permanência na prefeitura daquela cidade, abrindo espaço para a candidatura de Tarcísio Burity, então recém-chegado ao partido. Em 82, Ronaldo foi lançado para disputar o governo pelo parceiro de legenda, Marcondes Gadelha. O PMDB preferiu prestigiar Antônio Mariz, que chegara como dissidente e que acabou derrotado por Wilson Braga (PDS). Em 90, finalmente, Ronaldo foi vitorioso como candidato, derrotando em segundo turno o líder popular Wilson Braga. Um dos fatores decisivos da sua vitória foi a adesão hipotecada no segundo turno pelo ex-deputado João Agripino Neto, que tivera excelente performance na primeira etapa.
Ronaldo ficou agastado com a demora em ser sacramentado pelo partido para candidatar-se ao Palácio da Redenção. Quando Humberto Lucena e Burity assumiram o compromisso de fazê-lo postulante em 90, ele procurou avivar, em versos, a palavra empenhada: Se o meu partido/se fizer de esquecido/do compromisso assumido/e eu for esquecido/não faz sentido/dar ouvidos/a esse partido. Cunha Lima recorria, ainda, a dotes poéticos para realçar o pacto de lançamento da sua candidatura, afirmando: Em 82, ficou pra depois/em 86, não foi a minha vez/em 90, ninguém me sustenta. Ele teve como candidato a vice-governador Cícero Lucena, empresário oriundo da construção civil, que até então não havia concorrido a mandatos eletivos. A dupla tocou de ouvido na administração do Estado. Cícero foi, ainda, prefeito de João Pessoa por duas vezes. Ronaldo desligou-se do PMDB em 98 após incidente no Campestre Clube de Campina Grande, quando pôs o dedo em riste na cara do governador José Maranhão, a quem acusava de preterir Cássio Cunha Lima para fazer valer a ambição pessoal de ser candidato, aproveitando a aprovação do instituto da reeleição.
Como desdobramento da divergência com José Maranhão, Ronaldo decidiu desfiliar-se do PMDB, assinando ficha no PSDB, para onde levou familiares como o filho Cássio e outros aliados políticos. O poeta considerou-se praticamente expulso do PMDB e, em tom lamurioso, lembrava ter tido a ficha 001 do PMDB, que sucedeu ao antigo MDB, que agora voltou ao cenário político. Ronaldo foi prefeito de Campina Grande por duas vezes a primeira, na década de 60. Ele foi cassado e afastado do mandato pelo regime militar com apenas 43 dias de administração, devido a posturas assumidas em favor da legalidade e da democracia. Em 82, com os direitos políticos recuperados, Ronaldo testou-se de novo para prefeito de Campina e foi eleito.
Como governador, teve papel importante, junto com o vice Cícero Lucena, na reabertura do Paraiban, o banco estatal de fomento, cuja liquidação extrajudicial houvera sido determinada pelo Banco Central no governo de Tarcísio Burity. Uma passagem traumática na vida de Ronaldo foi o atentado que perpetrou contra o ex-governador Burity no restaurante Gulliver, abespinhado com supostas insinuações que Burity teria feito contra sua família. O poeta viveu os últimos dias em cadeira de rodas após sofrer um AVC em Brasília. Dedicou-se, então, a exercer mandatos legislativos e a orientar o filho Cássio nos primeiros passos que estava encetando. A decisão do Fico em praça pública era coerente com o espírito de Ronaldo, que se sentia à vontade no convívio com o povo e que só não se elegeu presidente da República porque não foi candidato, como alegava, em tom de blague.
Por Nonato Guedes