As desistências dos prefeitos de João Pessoa, Luciano Cartaxo, e do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, em concorrer ao governo estadual nas eleições deste ano, tiveram antecedentes em momentos importantes da história política paraibana. Em 1986, Wilson Braga começou a soltar balões de ensaio sinalizando uma suposta candidatura do seu vice, o empresário José Carlos da Silva Júnior, à sua sucessão, enquanto de sua parte disputaria o Senado. Interlocutores de José Carlos e analistas políticos preveniram-no quanto à iminência de golpes engendrados por Wilson, que mesmo fora do poder desejava manter controle sobre a máquina administrativa, pela influência que poderia ter no resultado das urnas. Só havia uma maneira de evitar a ascensão de José Carlos à titularidade por dez meses: fazê-lo candidato a governador e depois excluí-lo do esquema quando renunciasse para se desincompatibilizar. Foi o que aconteceu.
O esquema braguista preferia ter José Carlos como trem-pagador da campanha, não como candidato, por não confiar no seu perfil de lisura e seriedade administrativa. Toda a família de José Carlos, do grupo São Braz e do Sistema Paraíba de Comunicação, era contra ele aceitar ser candidato, preferindo sua permanência para concluir o período de governo. A pressão dentro do partido, o PDS, contudo, se avolumava, instigada pelo próprio Wilson e passaram a pipocar na imprensa declarações de parlamentares de suposto apoio ao empresário. O elemento detonador, contudo, foi a antecipação do resultado de uma chamada consulta às bases para aferir tendências e preferências. José Carlos foi cientificado de que seu nome era o preferido internamente, embora as conclusões da consulta não tivessem sido publicizadas. O vice sentiu-se no dever partidário de servir ao Estado e deu sinal verde à oficialização do seu nome.
Soube, na sequência, que a consulta apontara preferência por Tarcísio Burity, vindo ele em segundo lugar e ficando em terceiro o senador Marcondes Gadelha (PFL). Em Cajazeiras, no primeiro comício da pré-campanha, o empresário foi abandonado no palanque enquanto Wilson saía em passeata carregado nos ombros de correligionários e eleitores. Os mentores do esquema governista, além disso, pediram 53 milhões de cruzados a José Carlos para as despesas iniciais e o preveniram de que se preparasse para gastar uns 250 a 350 milhões de cruzados. Houve divergências, também, quanto à definição de nomes de publicitários que iriam elaborar o tom do marketing de campanha. Braga e o jornalista Carlos Roberto de Oliveira, contratado para fazer a campanha, não aceitaram que José Carlos entregasse o comando publicitário a uma agência do Rio, da qual suas empresas eram clientes e em quem ele confiava. Em meio aos ruídos de bastidores, José Carlos achou prudente renunciar à indicação, o que se deu no dia 26 de julho, mesmo dia em que o PMDB homologava Tarcísio Burity como candidato. O empresário chegou a ajudar candidatos do esquema mas sem ir a palanque nem se engajar no corpo-a-corpo eleitoral. Às pressas, o esquema de Braga ungiu o nome do senador Marcondes Gadelha, que foi persuadido com um argumento pouco encorajador: Só você pode perder. Era uma alusão ao fato de que, mesmo perdendo o governo, Gadelha conservaria quatro anos de mandato como senador. Braga rendeu-se ao fato consumado e passou a adotar Marcondes. Este sofreu derrota acachapante nas urnas foi derrotado por Burity por quase 300 mil votos de vantagem. E Wilson também foi derrotado no prélio ao Senado. O PMDB elegeu como senadores Humberto Lucena e Raimundo Lira.
Antes de chegar a José Carlos e a Marcondes, Wilson propusera uma candidatura de pacificação representada pelo nome do senador Humberto Lucena, do PMDB, mas não encontrou receptividade para a estratégia tida como maquiavélica. Humberto era conhecido como homem de partido. E abriu mão da candidatura para Burity por reconhecer o seu potencial e, em termos pessoais, por ter tido problemas de saúde que o levaram a se internar no Incor, em São Paulo. Burity é o grande fenômeno eleitoral da conjuntura, afirmava Wilson, empolgado com o ritmo favorável da campanha, que colateralmente foi beneficiada pelo Plano Cruzado do governo federal, prevendo o congelamento de preços. Wilson, na peleja para ser senador, perdeu até para os votos em branco, que chegaram ao dobro da sua votação 602.067. A explicação de Gadelha para a derrota fora a de que ele tinha sido vítima do vendaval peemedebista no país. Burity tinha outra leitura: O povo saturou de um sistema político que degradou o Estado. Tempos mais tarde, deu-se o rompimento de Burity com o PMDB, em meio a troca de epístolas entre ele e o comandante geral do partido, Humberto Lucena. Quanto a José Carlos, na década de 90 tornou-se suplente de Ronaldo Cunha Lima no Senado e chegou a ocupar o mandato titular por um período razoável, inclusive ocupando a tribuna para proferir discursos.
Por Nonato Guedes