Se resolver se desincompatibilizar do governo do Estado até a próxima sexta-feira para disputar uma cadeira no Senado ou outro mandato eletivo em outubro, o governador Ricardo Coutinho pode estar a caminho de experimentar a sua última semana à frente da administração, que ele empalma desde 2011. Há quem considere tratar-se de uma decisão dramática para Ricardo (PSB), que dá prioridade à eleição do seu sucessor, na figura do pré-candidato João Azevedo, reconhecido como técnico qualificado mas sem densidade eleitoral, até porque não disputou nenhum mandato até agora em sua trajetória. Prestigiado por Ricardo na secretaria de Recursos Hídricos e Infraestrutura, João Azevedo chegou a ser cogitado como alternativa para disputar a prefeitura municipal de João Pessoa em 2012 e 2016, mas o esquema ricardista acabou lançando mão das candidaturas de Estelizabel Bezerra e Cida Ramos, que não lograram ir, sequer, para o segundo turno.
Ricardo Coutinho, nascido em João Pessoa, onde detém forte influência pessoal, não conseguiu forjar herdeiros políticos. Em parte, isto é atribuído por analistas políticos ao caráter personalista de Coutinho, que nunca se vinculou a grupos ou esquemas, tendo feito as composições indispensáveis para se projetar e ocupar espaços no cenário foi assim que se aliou ao senador José Maranhão (MDB) e ao senador Cássio Cunha Lima (PSDB). Com Maranhão, ainda tenta manter relação amistosa, embora haja troca de farpas pela imprensa, mas com Cássio qualquer reconciliação é tida como impossível, diante de sequelas resultantes da única aliança que fizeram em 2010. Na época, Cunha Lima juntou-se a Ricardo para derrotar Maranhão. Embora seja considerado irascível e tenha um estilo político meio rude, pouco comunicativo (costuma dizer que não é de dar tapinhas nas costas), Ricardo despontou como novidade na conjuntura estadual, inicialmente filiado ao PT, do qual se desfiliou ao sentir que não teria apoio para disputar a prefeitura da Capital, quando era favorito, o que se confirmou ao se candidatar pelo PSB.
Mas o estilo do governador é ciclotímico. Quando se deu o processo de impeachment de Dilma Rousseff, do PT, ele defendeu publicamente a ex-presidente da República e engrossou o coro do golpismo. Foi a partir daí que se reaproximou de ex-companheiros petistas, na Paraíba, de deputados estaduais e federal a vereadores e caciques. Também promoveu recepções na Paraíba para a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foram levados para uma cerimônia extra-oficial de inauguração da chegada das águas da transposição do rio São Francisco em nosso Estado. Ricardo teceu elogios ostensivos ao ex-presidente Lula num palanque montado para acolher o presidente Michel Temer para a inauguração oficial da chegada das águas da transposição. Ultimamente, o governador paraibano tem defendido a elegibilidade de Lula contra todas as evidências decorrentes de condenações impostas ao ex-presidente. Já chegou a ser cogitado para vice de Lula numa chapa presidencial este ano, mas a proposta não prosperou. Ricardo Coutinho enfrenta pendências na Justiça Eleitoral em Brasília, o que leva adversários a acreditarem que ele pode vir a permanecer no mandato até o último dia para dispor de imunidade em caso de processos graves ou comprometedores.
Coutinho tem uma relação conflituosa com a vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, esposa do deputado federal Damião Feliciano, presidente do partido no Estado. Lígia tinha a expectativa de vir a assumir o governo na plenitude, completando o restante do mandato, com uma virtual desincompatibilização de Ricardo para disputar o Senado. Na sequência, sonhou com a hipótese de, vindo a ser governadora efetiva, candidatar-se à reeleição, com o suposto apoio do próprio Ricardo. O governador, todavia, desmontou o castelo de cartas do clã Feliciano e adotou publicamente a preferência pela candidatura de João Azevedo, com ele participando de solenidades oficiais. A Justiça, acionada pela oposição, chegou a proibir pronunciamentos oficiais de Azevedo em solenidades de entrega de obras, pela sua condição de pré-candidato. Sem muitas fichas na sucessão, aparentemente, Ricardo operou para desunir e desmobilizar a oposição. Conseguiu o feito de retirar do páreo o que poderia ser uma grande ameaça ao projeto socialista a candidatura do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (agora PV), que tende a ser substituído no páreo por Lucélio, seu irmão gêmeo. Mas a fragmentação oposicionista é visível, o que, se não chega propriamente a favorecer os planos de Ricardo, tem atrapalhado os da oposição. Esta semana será decisiva para a sorte de Coutinho.
Nonato Guedes