Manifestantes contrários à ordem de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) agrediram e hostilizaram profissionais da imprensa durante a cobertura de atos em São Bernardo do Campo (SP), Brasília, João Pessoa e Belo Horizonte na noite desta quinta-feira (5) e na manhã desta sexta (6).
Apoiadores do ex-presidente quebraram vidros de carros de reportagem, ameaçaram e jogaram ovos em jornalistas.
No Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, onde Lula passou a noite de quinta e está em reuniões, manifestantes fizeram vídeos e fotos dos jornalistas e gritaram palavras de ordem como “mídia golpista”, “mídia fascista” e contra redes de televisão. Por volta das 5h da manhã, manifestantes ameaçaram fotógrafos e repórteres na rua e foram contidos por sindicalistas e outros militantes, após alguns minutos de confusão.
Quando os jornalistas foram conduzidos para dentro do prédio pela assessoria do sindicato, houve tentativa de invasão. As portas de vidro foram fechadas e uma delas foi quebrada. Os jornalistas foram transferidos para um salão do terceiro andar do prédio.
Também durante a manhã, manifestantes quebraram os vidros de um carro de reportagem da BandNews, perto do sindicato. O fotógrafo do jornal O Estado de S. Paulo Nilton Fukuda foi atingido por ovos arremessados por um homem que vestia camiseta da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Em Brasília, pelo menos 30 manifestantes atacaram e quebraram vidros de um carro do Correio Braziliense, com a equipe de reportagem e o motorista dentro, na noite de quinta.
A repórter e a fotógrafa cobriam uma manifestação em defesa de Lula perto da sede da CUT do Distrito Federal.
No local, uma equipe do SBT também foi cercada e ameaçada. Segundo nota da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), os manifestantes disseram aos jornalistas: Vocês vão sair daqui pro bem de vocês. Um fotógrafo da Reuters também foi hostilizado e teve de deixar o local, de acordo com a associação.
Em Belo Horizonte, profissionais da imprensa que aguardavam a ex-presidente Dilma Rousseff no TRE foram hostilizados por militantes petistas e houve bate-boca. Deputados estaduais do partido tiveram que interferir para acalmar os ânimos.
Em João Pessoa, um grupo de vândalos depredou o prédio da TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo. Algumas pessoas atiraram pedras nas janelas e derrubaram o portão de entrada de veículos da sede da empresa. Muitos funcionários tiveram que ser retirados de seus postos de trabalho. Ninguém ficou ferido.
ASSOCIAÇÕES CONDENAM
Entidades de jornalismo condenaram as agressões contra os profissionais. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgaram nota repudiando os ataques.
Toda essa violência injustificável e covarde decorre da intolerância e da incapacidade de compreender a atividade jornalística, que é a de levar informação aos cidadãos. Além de atentar contra a integridade física dos jornalistas, os agressores atacam o direito da sociedade de ser livremente informada, diz o comunicado conjunto.
As entidades pediram que os incidentes sejam apurados, e os responsáveis, punidos.
A Abraji também condenou os ataques. A violência contra profissionais da imprensa é inaceitável em qualquer contexto. Impedir jornalistas de exercer seu ofício é atentar contra a democracia. Os autores devem ser identificados e punidos pelas autoridades, diz a nota, assinada pela diretoria da entidade.
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) também repudiou os atos de agressão contra os profissionais. “A SIP está alerta para esses incidentes de violência e os incluirá entre os temas que serão debatidos durante sua reunião na semana que vem em Medellín, na Colômbia, e na qual se discutirá a situação da liberdade de imprensa no continente”, diz a nota.
Fonte: Folha de São Paulo