De todas as batalhas que enfrentou até agora desde que ingressou na vida pública, a maior que o governador Ricardo Coutinho (PSB) tem pela frente é a de conseguir transferir votos que possibilitem a vitória do ex-secretário João Azevedo à sua sucessão. Técnico tido como competente e qualificado, João Azevedo nunca foi testado na política. Chegou a ser cogitado para disputar a prefeitura de João Pessoa, com Ricardo já no exercício da administração estadual, mas nenhuma articulação nesse sentido prosperou. Azevedo, que se desincompatibilizou da Pasta de Recursos Hídricos e Infraestrutura, não esconde que está motivado para ingressar na política e alçar a voos maiores. Na definição de um aliado do governador, o pré-candidato ainda é desajeitado nesse figurino e falta-lhe jogo de cintura política para falar a linguagem dos políticos. Mas pode surpreender com mudança radical de perfil, alerta.
Para viabilizar a estratégia de tornar Azevedo o seu sucessor, o governador Ricardo Coutinho chegou ao ponto de desistir de concorrer ao Senado, embora todas as projeções indicassem favoritismo seu para uma das vagas. Na undécima hora dos prazos de desincompatibilização, esta semana, o governador anunciou que permanecerá no cargo até o último dia do mandato e reiterou compromisso com a candidatura de Azevedo, que, conforme ele, é uma espécie de para-raios contra candidatos oportunistas que não têm nada a oferecer à Paraíba. Como reforço à postulação do seu candidato in pectoris, ele anunciou uma maratona de inaugurações de obras públicas relevantes e para sensibilizar os eleitores repetiu o argumento de que o executor dos projetos será o ex-secretário, que tem a responsabilidade de concluir o que ainda está em fase de realização e de avançar no que será entregue. Adversários de Coutinho acusam-no de impor Azevedo por mero capricho pessoal, insinuando que o governador mantém o estilo personalista e até arrogante no trato político.
Ricardo sacrificou, na estratégia pró-Azevedo, a sua vice-governadora Lígia Feliciano, que tinha planos de assumir a titularidade do governo, concluir a gestão e se candidatar à reeleição com o apoio de Ricardo. Filiada ao PDT, presidido pelo marido, o deputado federal Damião Feliciano, Lígia divulgou nota contemporizando com a decisão de Ricardo de permanecer no governo. Ela garantiu que sempre concordou com esse desideratum e anunciou que estará integrada ao projeto concebido por Coutinho. A declaração contrasta com versões de que o clã Feliciano teria ensaiado, na quinta-feira, comemorações pela iminente saída de Ricardo do cargo, conforme notícias que lhe haviam sido repassadas. Na entrevista em que anunciou a permanência, Ricardo notou a ausência de Lígia e Damião.
O governador cristalizou a opção por Azevedo depois que o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), aparentemente favorito na corrida sucessória deste ano, resolveu ficar até o fim do segundo mandato. Ele alegou como pretexto a falta de unidade da oposição para assumir sua pretensão. O irmão gêmeo dele, Lucélio Cartaxo, que já foi candidato a senador e alcançou votação expressiva, passou a ser cotado, ora para concorrer ao governo, ora para disputar outro cargo relevante. Um outro fator que empolgou Ricardo a encampar o nome de Azevedo foi a decisão do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSDB, de permanecer no cargo e não disputar o governo. Formalmente, os únicos pré-candidatos ao governo, até agora, são João Azevedo pelo PSB e o senador José Maranhão, pelo MDB. Maranhão administra, atualmente, um partido abalado e esvaziado por defecções em seus quadros, que repercutiram na bancada federal, com a saída do senador Raimundo Lira do MDB e do deputado federal Veneziano Vital do Rêgo, que assinou ficha no PSB e deve ser o candidato de Ricardo a uma das vagas de senador.
Líderes políticos avaliam que o jogo ainda continua aberto para a formação de chapas, que só terão validade após o registro em convenções que normalmente ocorrem em junho. Falta o PSDB indicar candidato próprio as preferências recaem em torno do senador Cássio Cunha Lima ou do seu filho, o deputado federal Pedro Cunha Lima. Da parte do governador Ricardo Coutinho, sabe-se que ele tentará atrelar a candidatura de João Azevedo ao nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, aproveitando-se da comoção em setores populares com a prisão do líder petista. Ricardo, em nota, solidarizou-se plenamente com Lula, o que é tido como uma manobra para sensibilizar petistas paraibanos e levá-los a subir no palanque de Azevedo. O governador joga sua grande cartada, mas tem fichas a despeito da baixa pontuação política inicial de Azevedo, revela um interlocutor de confiança de Ricardo, arrematando: Ele tem o poder mortífero da caneta e o poder de convencimento junto a segmentos da opinião pública paraibana.
Nonato Guedes