Quando chegou à Paraíba em 90 para ser candidato a deputado federal, depois de ter se afastado por um tempo do Estado, o ex-ministro José Luiz Clerot foi encarado como um paraquedista, espécie de homem da mala que tinha vindo tentar comprar votos para se eleger. Afinal, havia antecedentes desse tipo, e laborava contra Clerot a circunstância de que ele estava afastado há algum tempo do Estado. Somente os mais antigos lembravam das suas origens na região de Mamanguape e da trajetória do seu pai, um humanista com relevante contribuição a causas vegetais. Nas rodas no extinto hotel Tropicana, onde políticos e jornalistas se reuniam, adensavam as especulações sobre a presença de Clerot no páreo proporcional. E a ciumeira de alguns candidatos aumentou quando chegou um telefonema do todo-poderoso José Sarney para Clerot, pedindo-lhe para desenrolar o nó da candidatura ao Senado pelo Amapá.
Há um episódio mais ilustrativo ainda do prestígio de Clerot nas altas esferas de poder do país. Na TV Cabo Branco, surgiu um espaço ao meio dia para entrevistas com candidatos a deputado federal e estadual, a fim de que expusessem suas propostas ao eleitorado. Clerot foi duas vezes aos estúdios. O programa, denominado Entrevista 90, era apresentado por este escriba e pelo companheiro Chico Maria, e transmitido ainda pela TV Paraíba, situada em Campina Grande. Quando soubemos que Clerot estava escalado para uma segunda participação, em detrimento de muitos postulantes que não tiveram espaço, eu e Chico Maria abordamos o editor Erialdo Pereira sobre a razão desse privilégio e já insinuando uma recusa em fazer a segunda entrevista. Erialdo conduziu-nos à sala do Superintendente Arlindo Almeida, que, em tom teatral, pediu-me para sentar na sua poltrona. Montou, então, um cenário envolvendo telefonema de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, a ele, Arlindo, com quem travou este curto diálogo:
– Vocês estão com um programa de entrevistas com candidatos, nas filiadas?
– Sim respondeu Arlindo.
– Por favor, levem o Clerot para uma entrevista. Ele é muito fluente reagiu Boni.
– O Clerot já esteve conosco na abertura da rodada das entrevistas redarguiu Arlindo.
– Chamem novamente o Clerot para entrevista atualizada concluiu Boni, num tom que, embora não autoritário, não dava margem a uma recusa.
Clerot foi novamente aos estúdios. E eu e Chico Maria, que na primeira entrevista o crivamos de perguntas incômodas, proporcionamos ao ex-ministro tratamento privilegiado, o que o deixou à vontade para aprofundar seus conhecimentos sobre temas gerais, não apenas jurídicos. Ficou no ar a indagação: que ligação teria Clerot com Boni? A resposta eu obtive ao cabo de andanças no percurso TV Cabo Branco-Hotel Tropicana. Clerot havia sido advogado de amigos influentes de Boni na sociedade do Rio, que haviam sido flagrados consumindo drogas. Com sua experiência na área do Direito e seu poder de argumentação, conseguiu liberar a patota do Boni, em meio a conselhos paternais para que não enveredassem por aquele mundo mágico e perigoso.
Amigo de Sarney, amigo de Boni, com trânsito privilegiado junto a outros atores da cena brasileira. Este era o portfólio que José Luiz Clerot não fazia questão de ostentar nunca nos falou a respeito das suas influências, salvo uma ligeira referência à família do ex-presidente José Sarney. A Paraíba é que não podia se dar ao luxo de perder um quadro do quilate de Clerot, deduzimos, enfim, eu e Chico Maria. Ele representou o Estado à altura e honrou os votos dos paraibanos. Pena que tenha se demorado pouco na militância política.
Nonato Guedes