No livro Politicamente Corretíssimos, coletânea de ensaios e artigos publicados na mídia sulista, o cineasta paraibano Ipojuca Pontes, ex-ministro da Cultura de Fernando Collor, externava o receio de que caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ascendesse à presidência da República tentasse fazer uma revolução em surdina e socializar o país. Ipojuca, ao comentar a hipótese, definiu-a como estratégia terrorista e alertou o eleitorado para ficar atento caso o projeto de Lula fosse levado à frente.
Ipojuca, que nos últimos dias esteve em João Pessoa, tomava por base a tentativa de Lula de formar um governo paralelo, após a derrota para Collor em 89. A ideia do governo paralelo é inteiramente despropositada no presidencialismo, onde o governo, salvo golpe ou turbulências revolucionárias, somente pode ser substituído após cumprir o legítimo mandato conquistado pelo voto popular. No entendimento do cineasta, Lula, na verdade, buscava adesões de líderes como Miguel Arraes e Leonel Brizola para a montagem de uma oposição intransigente capaz de desestabilizar a gestão de Collor de Mello. Se a sociedade brasileira quisesse levar o país à prática socialista, na certa não teria eleito Collor, mas, sim, o candidato Lula da Silva, entoou Ipojuca, a título de lenmbrete.
Pontes chegou a ironizar o que viria a ser um governo paralelo liderado por Lula, citando que no campo da cultura seriam criadas Comunidades Artísticas de Base e das Brigadas Culturais com o objetivo de promover festivais políticos e culturais. Sugeria o cineasta que ao invés de tentar prejudicar o governo Collor, Lula deveria intervir nas prefeituras do PT, especialmente a de São Paulo, comandada pela paraibana Luíza Erundina, e a de Marcello Alencar, no Rio, além do governo de Miguel Arraes em Pernambuco. São gestões marcadas pela incompetência e suspeita de corrupção, comprometidas com o fracasso, a inépcia e a improbidade adiantava. Ao se referir especificamente ao governo de Erundina em São Paulo, Ipojuca disse que a prefeitura sobrevivia em meio a escândalos contínuos e sistemáticas acusações de ineficiência administrativa, com destaque para as áreas de transporte e saúde. As populações, desesperadas, não toleram mais a desfaçatez de desgovernos crônicos e clamam por mudanças urgentes, avaliou Ipojuca. Que concluía o artigo instigando Lula e o PT a dizerem como se comportariam em face de uma suposta ascensão de Lula. No Brasil, tem-se de encarar a provocação de forma tolerante, sem perder de vista sua intenção desagregadora, como, de resto, recomenda o bom exercício da democracia no país, pontuava Ipojuca.
Nonato Guedes