Há 33 anos, no dia 21 de abril de 1985, falecia no Instituto do Coração, em São Paulo, o ex-presidente da República Tancredo de Almeida Neves, vítima de infecção generalizada, depois de um calvário de 39 dias entre os hospitais de Base de Brasília e o Incor. Tancredo contava 75 anos de idade e foi escolhido por via indireta, no Colégio Eleitoral, para a presidência da República, derrotando Paulo Maluf, que atualmente cumpre prisão domiciliar, envolvido em uma série de crimes acumulados e finalmente desvendados na Justiça. Foi a última eleição indireta, herança do regime militar instituído em 1964. Tancredo concorreu pelo PMDB, tendo como vice José Sarney, oriundo de uma dissidência no PDS que deu origem à Aliança Democrática e, mais tarde, ao Partido da Frente Liberal PFL, hoje DEM.
A morte de Tancredo aconteceu num domingo, coincidindo com o transcurso do Dia de Tiradentes, ambos personagens históricos da vida pública de Minas Gerais. Formado em Direito, nascido em São João Del Rey, Tancredo foi personagem destacado em momentos históricos do Brasil. Alcançou o regime de Getúlio Vargas, que acabou de forma trágica com o suicídio deste no Palácio do Catete em 1954. Foi primeiro-ministro no parlamentarismo improvisado às pressas com a renúncia de Jânio Quadros, para facilitar a investidura de João Goulart, que sofria resistência de setores militares da linha dura e que acabou deposto entre a noite de 31 de março e a madrugada de primeiro de abril de 1964. Na vigência da ditadura militar, Tancredo alinhou-se com o MDB, tido como partido de oposição consentida. De linhagem moderada, demonstrou altivez em diferentes oportunidades, formando com o deputado Ulysses Guimarães em enfrentamentos antológicos.
Deputado federal, senador, governador de Minas Gerais, Tancredo Neves surgiu como nome de consenso para uma transição da ditadura militar ao regime civil. Ele angariou simpatias na sociedade civil, com quem dialogou constantemente durante a pré-campanha para a eleição indireta. Deixou claro, sempre, que o PMDB estava indo ao Colégio Eleitoral para matar a cobra com o seu próprio veneno, e em seus pronunciamentos à sociedade brasileira enfatizou compromissos éticos e morais, a partir do princípio de que era proibido gastar. Tancredo fez viagens ao exterior, já depois de escolhido por via indireta, compôs o ministério em coalizão com outras forças políticas, definiu prioridades com a adoção da justiça social. Sua morte traumatizou a Nação e foi comunicada oficialmente pelo jornalista Antônio Britto, ex-TV Globo, que fora nomeado porta-voz de Tancredo, mais tarde governador do Rio Grande do Norte. No livro intitulado Assim morreu Tancredo, Antônio Britto narra toda a saga que vivenciou nos momentos dramáticos que antecederam a morte do político mineiro.
Nonato Guedes