Um projeto de lei de iniciativa da deputada federal Maria do Rosário, do PT-Rio Grande do Sul, propõe a inclusão do nome da líder sindical paraibana Margarida Maria Alves, assassinada em 12 de agosto de 1983 na cidade de Alagoa Grande, no brejo, no livro de heróis e heroínas da Pátria. O projeto já foi aprovado no âmbito da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e agora seguirá para tramitação no Senado. O deputado estadual paraibano Frei Anastácio Ribeiro, do PT, ligado aos movimentos sindicais e sociais, elogiou a deputada gaúcha pela iniciativa e disse que Margarida foi uma mulher à frente do seu tempo, que deu a vida por uma causa.
O relator do projeto é o deputado federal Luiz Couto, do PT paraibano, identificado com as lutas em favor dos Direitos Humanos e que já emitiu parecer favorável à proposta de Maria do Rosário, justificando que se trata de um reconhecimento justo à luta empreendida por Margarida, que teve atuação destacada no movimento sindical rural da região de Alagoa Grande, na condição de presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais daquela cidade. Margarida foi assassinada na frente do marido e de um filho, com tiro de espingarda 12, quando se encontrava, à noite, na calçada da sua residência em Alagoa Grande. As autoridades descobriram que a ação foi praticada por pistoleiro contratado por proprietários rurais da Várzea da Paraíba, incomodados com a conscientização empreendida por Margarida junto aos trabalhadores rurais.
A morte de Margarida teve repercussão internacional e é objeto de livro de autoria do jornalista paraibano Sebastião Barbosa, sobrinho do viúvo Severino Cassimiro, com o título A Mão Armada do Latifúndio, que chegou a ser lançado na Câmara dos Deputados em evento prestigiado por políticos paraibanos como o falecido ex-vice-governador e ex-deputado federal Raymundo Asfora, autor da oração fúnebre no velório de outro líder sindical camponês assassinado, João Pedro Teixeira, da cidade de Sapé, que morreu numa emboscada em 1962 quando retornava de João Pessoa para o sítio Antas. Por ocasião da morte de Margarida, encontrava-se à frente do governo do Estado o pedessista Wilson Leite Braga, que determinou investigações profundas, mesmo batendo de frente com pressões de expoentes do Grupo da Várzea, representativo do latifúndio na Paraíba. Uma das frases mais conhecidas de Margarida foi pronunciada num discurso de primeiro de maio, meses antes de sua morte: É melhor morrer na luta do que morrer de fome.
O deputado Frei Anastácio, que ainda se recupera de um problema cardíaco, lembra que o livro de heróis e heroínas da Pátria recebe nomes de pessoas que se destacaram por sua contribuição à luta em defesa do País e lembra que ainda hoje a luta de Margarida Maria Alves é reverenciada anualmente por trabalhadores e trabalhadoras, que promovem a Marcha das Margaridas, com grande destaque na mídia sulista. Nascida em agosto de 1933 em Alagoa Grande, Margarida era filha de camponeses e começou a trabalhar ainda criança, na agricultura. Ao se transferir do sítio dos pais para a cidade, envolveu-se com as atividades do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, tendo ocupado cargos de importância no sindicato até chegar à presidência em meados de 1973, quando deu visibilidade às reivindicações dos trabalhadores por terra e contra a opressão.
Da Redação, com Adelson Barbosa dos Santos (Correio da Paraíba)