Em seu novo livro, Crise e Reinvenção da Política no Brasil, que já está chegando às livrarias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirma que há um grito parado no ar no país, oriundo de uma sociedade perplexa e indignada com a corrupção e o desgoverno, enquanto a classe política revela-se desnorteada e acuada e os analistas tateiam no escuro em busca do significado destes dias. O autor afirma, mais adiante: Vivemos uma aceleração da história. Crises e mutações se sucedem e causam uma sensação de vertigem. Tudo que é sólido desmancha no ar, como observou Marx. Mais do que nunca, é imperativo interpretar o mundo para poder transformá-lo.
Fernando Henrique conta que o livro teve a participação do cientista político Sergio Fausto e do diplomata Miguel Darcy de Oliveira, ambos colaboradores do instituto que leva o nome do ex-presidente, com os quais houve uma intensa troca de opiniões, correções e agregações de textos. O processo de elaboração, conforme relata Roberto Pompeu de Toledo em resenha, teve por base quinze longas entrevistas comandadas pelos dois parceiros. Nem por isso a obra é menos FHC, que a conduz em primeira pessoa, salpica-a de experiências vividas em seus mandatos e deixa a sua marca a cada parágrafo, anota Pompeu de Toledo.
Os temas tratados na obra de FHC são múltiplos, da derrocada do PT à reforma da Previdência, Donald Trump, Macron e Brexit, mas, grosso modo, o livro se organiza em torno de três eixos: 1) as diferenças entre a sociedade atual, que ele chama de contemporânea, nascida nos anos 1990, e a sociedade moderna, que a antecedeu; 2) a discrepância entre os avanços da sociedade e o atraso dos sistemas políticos, e 3) que fazer? As habilidades do sociólogo e do político, ambos emboa forma aos 86 anos, combinam-se num trabalho que é também uma peça de combate, com um olho na eleição deste ano e além. Fernando Henrique adverte que sociedades novas não significam boas sociedades. A globalização produzirá ganhadores e perdedores, alerta. E conclui: A fantasia romântica de que a representação política deve espelhar diretamente a vontade da sociedade só é realizável como farsa totalitária.
Nonato Guedes, com Veja