A desistência do governador Ricardo Coutinho (PSB) em concorrer, com chances, a uma cadeira no Senado em outubro, foi alegada por ele como parte da sua estratégia para levar à frente no Executivo o projeto que executa e que deverá ser turbinado em plena campanha com obras e investimentos previamente assegurados. Há uma outra razão muito forte que leva Ricardo a desdenhar da candidatura senatorial, que era aguardada por aliados como grande reforço para a campanha deste ano: o governador não tem atração pelo Senado. Insinuou, certa vez, que é uma Casa talhada para abrigar políticos em fim de carreira. Em paralelo, o gestor não se deixa seduzir pela perspectiva de morar em Brasília.
A menina dos olhos do governador é a prefeitura de João Pessoa, confessa um interlocutor de Ricardo, trazendo à tona o que se comenta em rodas políticas: que após deixar o governo do Estado, Ricardo tirará férias em Bananeiras, na região do brejo, e vai começar a tricotar o plano de disputar novamente a prefeitura da Capital, que exerceu em dois mandatos. Eleito prefeito em 2004 e reeleito em 2008, Coutinho tem afinidade com João Pessoa, coerente com sua naturalidade fincada na Capital. Seus assessores avaliam que ele é imbatível na disputa de 2020, podendo vir a destronar eventualmente caciques carimbados da política que tentem se habilitar ao posto.
Mesmo no exercício do governo estadual, Ricardo Coutinho não descuidou de João Pessoa, promovendo uma série de realizações em áreas estratégicas e dotando a Capital de equipamentos comunitários importantes em diferentes setores, como a inauguração do teatro Pedra do Reino, que já possibilitou apresentações de nomes consagrados do ambiente artístico-cultural brasileiro. Nesse aspecto, o gestor guarda semelhança com o falecido governador Tarcísio Burity, que deu atenção especial à Capital, a partir da edificação do Espaço Cultural e do Mercado de Artesanato. Ainda hoje, Burity é lembrado como o governador-prefeito, embora, diferentemente de Ricardo, nunca tenha disputado a prefeitura municipal. Os interlocutores do atual mandatário asseguram que há um reconhecimento muito grande por parte dos pessoenses quanto às ações implementadas pela gestão de Coutinho, englobando melhorias na paisagem urbanística e intervenções de resultados na infraestrutura.
Na eleição vindoura para prefeito, haverá concorrentes de menos para Ricardo Coutinho. O atual prefeito Luciano Cartaxo (PV), por exemplo, está tocando seu segundo mandato e, pela lei, não pode se candidatar outra vez consecutivamente. O vice-prefeito Manoel Júnior, que rompeu com o MDB, tinha a expectativa de assumir a titularidade da prefeitura com uma virtual renúncia de Luciano para postular o governo do Estado. Luciano fez uma troca de nomes em família, deixando-se substituir no páreo ao governo pelo irmão gêmeo Lucélio, que, se eleito, tornaria o clã Cartaxo um dos mais influentes no cenário político da Paraíba. A tendência de Manoel Júnior, por sua vez, é a de candidatar-se novamente a deputado federal, com isto arquivando em definitivo a ambição de vir a administrar a Capital de todos os paraibanos na sua plenitude. Há um céu de brigadeiro esperando, generosamente, por Ricardo Coutinho na prefeitura. Só depende dele, resume um interlocutor de confiança do gestor, analisando perspectivas para o futuro próximo.
Nonato Guedes