Neste momento em que o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, nega crise com o vice-prefeito Manoel Júnior e o governador Ricardo Coutinho dá margem a insinuações de desconfiança quanto à sua vice-governadora Lígia Feliciano, os analistas políticos recordam exemplos de afinidades registradas na história política-administrativa do Estado entre administradores. Dois casos são tidos como fortemente emblemáticos: o da gestão José Maranhão-Roberto Paulino, iniciada em 1998, e o da gestão Ronaldo Cunha Lima-Cícero Lucena, deflagrada a partir de 1991. No folclore político nacional, criou-se a lenda de que gabinetes de vices são focos de conspiração contra titulares. Entretanto, como os próprios políticos admitem, há exceções.
José Maranhão tornou-se próximo do governo quando figurou como vice de Antônio Mariz na eleição de 1994. Com a enfermidade deste, acometido por um câncer, Maranhão praticamente administrou o Estado até o desenlace de Mariz, em 95, na Granja Santana, para onde retornara depois de internação no Incor em São Paulo. Enquanto Mariz esteve vivo, Maranhão procurou seguir à risca acordos prévios ffixados. Quando se tornou titular, Maranhão exerceu o poder na plenitude, imprimindo seu estilo e suas preferências. Em 98, com a aprovação da proposta de reeleição no Congresso Nacional, o emedebista José Maranhão, filiado ao então PMDB, partiu para a disputa, encurralando o grupo Cunha Lima dentro do partido ao vitoriar em convenções internas. Teve como adversário ao governo Gilvan Freire, em quem aplicou derrota acachapante, proporcionalmente uma das mais significativas de todo o país. Gilvan disputou pelo PSB, com a simpatia dos Cunha Lima, que, no entanto, não puderam pedir votos publicamente por estarem ainda agregados ao PMDB. O vice de Maranhão foi Roberto Paulino, liderança política do brejo, com militância marcante na cidade de Guarabira e pessoa de confiança de Maranhão. Os dois tocaram de ouvido no período em que Maranhão esteve na titularidade e não houve tentativa de intriga que prosperasse em um ou outro episódio incidental da parceria. Tanto que em 2002, quando se preparou para disputar o Senado, logrando nova vitória, José Maranhão apoiou à sua sucessão a candidatura de Roberto Paulino, que enfrentou Cássio Cunha Lima. Apesar das limitações de Paulino, o embate teve segundo turno e a disputa manteve-se acirrada, prendendo atenções do eleitorado. Cássio levou a melhor na última peleja.
Em relação a Ronaldo Cunha Lima, finalmente em 1990 ele conseguiu concretizar o sonho de ser candidato do PMDB ao governo, depois de preterido em 1982 e 1986, como ele mesmo enfatizava em palanques. A expectativa dominante girou em torno da escolha do companheiro de chapa de Ronaldo, que enfrentaria nas urnas o ex-governador Wilson Leite Braga, um campeão de votos, e o deputado federal João Agripino Neto, apoiado pelo então governador Tarcísio Burity, que se recusava a votar em Braga ou Ronaldo. O poeta surpreendeu a todos formando uma chapa puro-sangue: indicou como vice o também peemedebista Cícero Lucena, que, no entanto, era um neófito na política. Oriundo de atividade empresarial na construção civil, Cícero engajara-se em campanhas do PMDB apenas nos bastidores. Foi arrastado para o primeiro plano por Ronaldo. A disputa teve dois turnos graças à votação de João Agripino Neto, Ronaldo foi empurrado para o confronto com Wilson Braga na segunda rodada. E com o apoio de João Agripino, logrou vitoriar, juntamente com Cícero Lucena.
Juntos, Ronaldo e Cícero montaram uma parceria administrativa exitosa e resistente a intrigas. Os dois tiveram papel relevante, por exemplo, na luta pela reabertura do Paraiban, que havia sofrido liquidação extrajudicial do Banco Central no governo Tarcísio Burity. O banco foi reaberto, enxuto, o que constituiu o maior troféu exibido pela gestão parceira de Ronaldo e Cícero, que estiveram juntos em momentos difíceis, como o episódio em que Cunha Lima atirou no ex-governador Tarcísio Burity no Gulliver, restaurante da orla marítima de João Pessoa. Quando Ronaldo se desincompatibilizou do governo, em 94, para disputar o Senado, saindo vitorioso, Cícero Lucena permaneceu à frente do governo, exercendo a titularidade por dez meses e entrando na história administrativa da Paraíba. Apoiado pelos Cunha Lima, ele ainda foi prefeito de João Pessoa por duas vezes , secretário-ministro da Integração Regional no governo Fernando Henrique Cardoso e, por último, senador. No primeiro governo de Cássio Cunha Lima, em 2003, sua vice-governadora foi a esposa de Cícero, Lauremília Lucena, conhecida pela firmeza com que desenvolveu programas sociais na periferia de João Pessoa, fazendo frente à liderança da ex-deputada federal Lúcia Braga, mulher do ex-governador Wilson Leite Braga.
Nonato Guedes