O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi favorecido num acordo firmado pelo PT fluminense com Luiz Fernando Pezão, do então PMDB, conforme revelações feitas em delação premiada pelo secretário de Obras do Estado do Rio, Hudson Braga, antecipadas na revista Veja em sua versão online. O acordo envolveria favorecimentos financeiros a Lindbergh na campanha de 2010, quando concorreu ao Senado, cabendo o repasse a empreiteiras como a Odebrecht. O dinheiro se destinaria, também, à quitação de transações efetuadas por Lindbergh quando prefeito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Das gestões empalmadas por ele naquela cidade, resultaram ações e processos impetrados na Justiça. O acordo feito com o PMDB foi com vistas a não inviabilizar uma candidatura de Lindbergh ao Senado, diante da ameaça concreta que ele enfrentava de entrar na linha de tiro durante a campanha em virtude da circulação de denúncias envolvendo seu período administrativo.
Natural de João Pessoa, Lindbergh Farias construiu militância política no Estado do Rio, inicialmente atuando em partidos de esquerda e, posteriormente, ingressando no Partido dos Trabalhadores. Ele ganhou notoriedade quando, na década de 90, na condição de presidente da União Nacional dos Estudantes, liderou manifestações dos chamados cara-pintadas pleiteando o impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo, acusado de envolvimento no esquema PC Farias de tráfico de influência no governo. O impeachment acabou sendo viabilizado em 92, via Congresso, e Collor teve seus direitos políticos extintos durante cerca de uma década, tendo passado temporada nos Estados Unidos e depois retomado a militância política no Brasil. Atualmente é filiado ao PTC e planeja sair candidato, novamente, a presidente da República.
Lindbergh Farias voltou à crista da onda do noticiário, desta feita pelas posições radicais que tem assumido na atual conjuntura contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recolhido à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Farias chegou a ser barrado na sede da PF na capital paranaense ao tentar fazer uma visita a Lula em companhia da ex-presidente Dilma Rousseff e da presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, que é mencionada em inquéritos policiais por suposto recebimento de propinas. Tanto Lindbergh quanto Gleisi engrossaram o tom de críticas à Justiça brasileira, considerando a existência de uma suposta perseguição política a Lula. Foram eles que fizeram gestões para dar repercussão, a nível internacional, ao episódio da prisão de Lula, apresentando o ex-presidente na condição de vítima de atitudes autoritárias. A situação de Lindbergh não é favorável para uma nova candidatura ao Senado, o que o estaria levando a cogitar a hipótese de sair candidato a deputado federal, mandato que já exerceu.
A senadora Gleisi Hoffmann, por sua vez, desgastada com as denúncias que tramitam contra ela, também avalia a possibilidade de sair candidata a deputada federal, temendo enfrentar um revés em disputas majoritárias. E, quanto à ex-presidente Dilma Rousseff, a sua última manifestação foi no sentido de desmentir, com veemência, os rumores de que seria candidata ao governo de Minas Gerais nas eleições deste ano. Dilma tem sido cogitada com frequência para diversos cargos, em diferentes Estados, inclusive na Paraíba, onde foi aventada a hipótese dela postular o Senado com o apoio do governador Ricardo Coutinho, do PSB. Na prática, a ex-mandatária, que sofreu impeachment no início do segundo mandato, não chega sequer a controlar correntes políticas dentro do Partido dos Trabalhadores no vácuo da ausência de Lula do comando da agremiação.
Nonato Guedes, com Veja