A admissão, pelo ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, da candidatura do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) a presidente da República formando chapa com um vice indicado pelo Partido dos Trabalhadores, diante da dificuldade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornar-se elegível, já que está preso e responde a processos, provocou reações imediatas nas hostes petistas e de outras forças de esquerda. A senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, apelou para a ironia ao comentar um suposto apoio petista à candidatura de Ciro Gomes, indagando: Ele não sabe, por acaso, que não passa no crivo do PT nem com reza brava?.
O gesto de Wagner foi considerado inoportuno e anti-tático dentro do PT, onde o consenso predominante entre dirigentes e lideranças principais é o de que a legenda deve insistir na pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, até como estratégia para pressionar o movimento pela soltura de Lula, que está recolhido à superintendência da Polícia Federal em Curitiba, indiciado em processos que tratam de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Por mais realista que Jaques Wagner tenha sido afinal, o próprio Lula confidenciou a interlocutores de confiança que está na hora de examinar um Plano B, com um possível candidato nordestino a menção ao nome de Ciro não ecoou bem nas hostes petistas.
Gomes é considerado um político oportunista e um quinta-coluna infiltrado na oposição, além de ter feito críticas contundentes ao Partido dos Trabalhadores e ao próprio Lula em diferentes oportunidades. Ele não é confiável de modo algum, muito menos para encabeçar chapa com o apoio do PT, ressaltou um dirigente nacional petista que preferiu não ser identificado para não polemizar com Ciro, conhecido pelo estilo pouco diplomático com que debate política. Ciro foi ministro da Integração Nacional e governador do Ceará, tendo já disputado a sucessão presidencial na primeira eleição ocorrida, em 1989, após o regime militar que vigorou 21 anos no Brasil. Tido como pavio curto, Gomes é criticado por declarações destemperadas que faz e também pelo suposto estilo personalista de agir politicamente.
A senadora Gleisi Hoffmann, que tem sido uma espécie de porta-voz do ex-presidente Lula na publicidade que dá a cartas emitidas por ele direto da prisão em Curitiba, tem sido intransigente na postura de que o Partido dos Trabalhadores não deve examinar alternativas para não enfraquecer a pressão popular para que Lula seja colocado em liberdade e, mesmo respondendo a processos, possa contribuir com a campanha petista nas eleições presidenciais e nas disputas regionais. Ao lado do paraibano Lindbergh Farias, senador pelo PT do Rio de Janeiro, Gleisi comanda o denuncismo sobre alegados ataques a acampamentos petistas em Curitiba, nas imediações da Polícia Federal, e supostas perseguições políticas e judiciais contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mirando, especialmente, no juiz Sérgio Moro, executor da pena aplicada contra o ex-mandatário. Completando o trio de porta-vozes petistas ainda empenhados em denunciar o que qualificam de golpe, situa-se a ex-presidente Dilma Rousseff, que está sendo cogitada para disputar o Senado por Minas Gerais mas enfrenta resistências no próprio PT. O trabalho de denúncia de Dilma é feito, principalmente, no exterior, em entrevistas a órgãos de imprensa de vários países e em palestras e conferências para as quais tem sido convidada. Numa das últimas mensagens à opinião pública, Lula declarou que a democracia está incompleta no país em virtude da restrição de espaços que foi imposta ao PT e às suas principais lideranças.
Nonato Guedes, com agências