A vida de Lula na prisão é o título da reportagem de capa da revista Veja na edição que circula neste final de semana. Veja teve acesso à ala da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula está recolhido cumprindo pena de 12 anos de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A revista conta como é o dia a dia de Lula desde sete de abril quando se entregou após resistir no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, São Paulo. O ex-presidente não chega a usufruir mordomias na cela onde está preso, mas dispõe de regalias inerentes ao cargo que exerceu, o de chefe da mais alta magistratura do País.
De acordo com o relato, ele acorda cedo, liga a TV e assiste bastante noticiário e jogos esportivos, já que só tem acesso à TV aberta. Faz uma caminhada de 15 minutos na cela de 15 metros e toma banho de sol ele não teve atendido um pedido para dispor de equipamentos ergométricos para exercícios. Apesar disso, a rotina no presídio é bastante movimentada no espaço que ele ocupa, com visitas constantes de advogados e até de lideranças políticas, especialmente do Partido dos Trabalhadores. A Polícia Federal, por ordem judicial, restringiu o acesso ao ex-presidente diante do desejo expresso por governadores, senadores e outras figuras de destaque no Brasil e no exterior de irem visitá-lo a pretexto de avaliar as condições carcerárias. Os aliados de Lula insistem em denunciar que ele é um preso político que sofre perseguição, tese repelida por autoridades, que invertem a formulação e o consideram um político preso.
A limpeza na cela do ex-presidente é feita por um funcionário da Polícia Federal, que adentra o recinto quando Lula está no banho de sol. O ex-presidente não se mistura com outros detentos que estão recolhidos à sede da PF em Curitiba e já leu três livros na prisão um deles O Amor no Tempo do Cólera, de Gabriel Garcia Marquez, e um outro que lhe foi presenteado pelo Frei Betto. Ganhou o apelido de Cliente em virtude das regalias a que tem direito. A prisão de Lula custa caro aos cofres públicos cerca de R$ 300 mil, em face do aparato que foi montado excepcionalmente para atender à circunstância da sua detenção. O ex-presidente tem deixado escapar em conversas que espera ser posto em liberdade o mais rápido possível. E, em tom de blague, pediu à juíza responsável pelo cumprimento da pena que liberasse um frigobar com uma cervejinha.
Fora da prisão, o grande problema político se dá nas hostes do Partido dos Trabalhadores, que abriu forçosamente o debate sobre uma candidatura alternativa a presidente da República este ano, depois de ter insistido, através de sua cúpula, no argumento de que não havia Plano B em gestação e que o PT só trabalhava com uma hipótese a da candidatura de Lula. Com a incerteza sobre o tempo de duração efetivo da prisão e, mais ainda, sobre a elegibilidade de Lula no pleito deste ano, os petistas examinam outras alternativas. Mas a presidente Gleisi Hoffmann reagiu energicamente à sugestão de Jaques Vágner de que o PT aceitasse apoiar Ciro Gomes (PDT) a presidente, indicando o nome a vice-presidente. Disse que o PT faz restrições a Ciro e que não absorve o apoio a essa candidatura. A reportagem de Veja relata críticas que Lula tem feito no presídio tanto a Gleisi Hoffmann quanto à ex-presidente Dilma Rousseff. Ao que tudo indica, o ex-presidente aguardava uma mobilização popular gigantesca que favorecesse a sua soltura, e como isto não aconteceu, busca identificar culpados dentro da própria legenda.
Nonato Guedes