O cantor e compositor Caetano Veloso, em entrevista concedida a um jornal de Lisboa, qualificou comoingênuos os manifestantes que vão às ruas no Brasil contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado pela Justiça e cumprindo pena que lhe foi imputada originalmente de doze anos. O artista chegou a Lisboa para participar do Eurovision, assunto que desperta interesse da mídia e do universo artístico-cultural. A entrevista foi concedida a João Almeida Moreira e na oportunidade Caetano fustigou os que tentam bater no ex-presidente da República.
A imprensa lisboeta aguardava com interesse e expectativa o diálogo com um dos expoentes da Tropicália, que divide o prêmio com o intelectual lisboeta Salvador Sobral. Respondendo a uma indagação, Caetano informou que as discussões políticas na atual conjuntura brasileira estão sendo travadas por meio de redes sociais. Os artistas estão, sim, mobilizados, atentos e dispostos a engrossar o coro por medidas populares legítimas e de resultados, expressou o artista brasileiro. No dia 12 ele retornará a Lisboa com os filhos músicos para apresentação do show que o clã familiar tem empreendido no Brasil.
Caetano lamentou a atual conjuntura política-institucional que predomina no Brasil por acreditar que o presidente Michel Temer (MDB), que assumiu a titularidade do cargo devido ao impeachment de Dilma Rousseff, vem promovendo retrocessos diante dos avanços da sociedade que possibilitaram melhoria nas condições de vida dos segmentos marginalizados. O importante, destacou Caetano, é que um número expressivo de artistas e intelectuais vem se opondo a manobras do Congresso Nacional e às propostas oriundas do Executivo. É um sinal positivo de que não há acomodação nem aceitação pacífica de formadores de opinião diante dos acontecimentos que sucederam nos últimos tempos. O músico baiano, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, foi ao Palácio do Planalto hipotecar-lhe solidariedade. A mesma atitude foi tomada por Chico Buarque de Holanda e outros expoentes do meio no Brasil. As avaliações de Caetano são consideradas lúcidas pelos que participam de palestras ou acompanham debates fomentados em favor de uma democracia plena. Esses tratam o impeachment que afastou Dilma como um golpe político-parlamentar. Chico Buarque tem comprado brigas consecutivas devido a provocações que lhe são feitas no calor do maniqueísmo que divide oBrasil entre os partidários de Lula da Silva e os que criticam Lula em manifestações verificadas nos diferentes auditórios.
Caetano Veloso chegou a ser patrulhado por militantes políticos mais radicais. Ele integrou um grupo intitulado Procure Saber, que elencava problemas enfrentados pela categoria e, ao mesmo tempo, marcaram posições de protesto contra o impeachment de Dilma. Agora, os manifestantes aliam outra bandeira a da soltura do ex-presidente Lula da Silva. A prisão de Lula tem sido considerada como fruto de perseguição política movida por empresários, por setores do governo de Michel Temer e por expressões do antipetismo nacional. Para Caetano Veloso, o refrão Fora Temer, que tem se disseminado até em solenidades oficiais, é um exemplo concreto de que a classe média, os mais humildes e a elite intelectual do país estão engajados, a seu modo, nos atos que, conforme justificam, descaracterizam a ordem democrática brasileira.
Nonato Guedes, com Terra