A omissão de partidos diante de filiados envolvidos em escândalos, e mesmo de parlamentares em relação a colegas do campo adversário flagrados com a boca na botija, revela o cenário de impunidade que tem prevalecido até aqui. No Supremo Tribunal Federal, há 53 políticos investigados pela Operação Lava-Jato e apenas um pedido de cassação de mandato referente à operação atualmente em análise na Comissão de Ética da Câmara. Desde 2014, quando começou a maior operação de combate à corrupção do país, só oito pedidos do gênero foram protocolados.
Na Lava-Jato, nem ao menos uma CPI específica prosperou. A da Petrobras limitou-se a investigar acusações de corrupção na estatal, mas o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) foi o único ouvido entre os parlamentares suspeitos de crimes. No fim, os responsáveis encerraram os trabalhos sugerindo o indiciamento de um só nome obviamente, não de um colega, mas do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. A CPI da JBS conseguiu ser ainda menos prolífica. Abriu e fechou no prazo recorde de três meses. Na conclusão, contentou-se em pedir uma investigação sobre o investigador, o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot. E nenhuma palavra sobre os políticos.
Até o momento, as representações contra congressistas envolvidos na Lava-Jato resultaram em três cassações. A do ex-deputado petista André Vargas foi a primeira. Seu colega Luiz Argôlo (SD) também teve aprovado um parecer favorável à cassação, mas escapou graças à manobra de aliados. Ambos foram parar no Conselho de Ética da Câmara logo no início da operação. Dois anos mais tarde, foram cassados o ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MT) e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Com o estouro da revelação dos 77 executivos da Odebrecht, um divisor de águas na história da Operação Lava-Jato, os partidos fizeram um pacto corporativo para proteger políticos. Ao acusar de corrupção e delitos congêneres 415 políticos de 26 partidos, a delação acabou por esfriar o já tênue impulso de justiça dos congressistas. Das oito representações relacionadas à Lava-Jato que deram entrada nos Conselhos de Ética, cinco ocorreram antes do tsunami da Odebrecht. Após as confissões em escala industrial da empreiteira, dois novos pedidos foram protocolados no órgão do Senado um pelo PSOL e pela Rede e outro pelo PT, ambos contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Daí para a frente, a comissão criada para investigar desvios de comportamento dos legisladores mergulhou num quase completo silêncio. Os partidos perceberam que a dimensão da Lava-Jato era maior do que podiam esperar. Por isso, recorreram à autoproteção, afirma Michael Mohallem, coordenador do Centro de Justiça e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro.
Nonato Guedes, com Veja