O cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, ícone da Música Popular Brasileira, encerra hoje à noite no Teatro Guararapes, no Recife, uma temporada de apresentações do seu novo show intitulado Caravanas, que tem registrado casa cheia, com fãs provenientes de diferentes localidades. Na temporada de quatro dias de apresentações, Chico Buarque tem intercalado músicas novas e antigas com metáforas políticas em solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que cumpre pena na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Na noite de ontem, foi a própria plateia que tomou a iniciativa de ficar de pé no Teatro Guararapes e entoar o refrão Lula livre, tentando sensibilizar e pressionar o juiz Sérgio Moro a uma revisão da condenação imposta ao ex-mandatário.
As metáforas de Chico Buarque, notório simpatizante do PT e amigo pessoal do ex-presidente, com quem tem afinidades, inclusive, no futebol, causam repercussão inevitável até mesmo junto a espectadores que não são simpatizantes do líder petista mas são admiradores de Chico Buarque. O cantor e compositor sempre esteve solidário com Lula quando surgiram as denúncias contra ele e, em alguns eventos públicos, gritou Fora Temer, outro refrão que é bastante utilizado pelos manifestantes que não absorveram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, substituída no cargo pelo seu então vice, filiado aos quadros do MDB. No processo de votação do impeachment de Dilma no Congresso, Chico Buarque acompanhou algumas sessões ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deu declarações à imprensa qualificando o processo de manobra golpista.
Entre intelectuais e profissionais liberais que se encontravam no teatro Guararapes no show de Chico Buarque de Holanda, há uma expectativa otimista de que a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a doze anos de prisão seja reavaliada mediante recursos e apelações a esferas da Justiça. Não há convicção, entretanto, sobre a possibilidade de uma virtual candidatura do ex-presidente, novamente, ao Palácio do Planalto, apesar de Lula demonstrar firmeza na crença de que sua elegibilidade será devolvida a tempo de participar da corrida eleitoral de 2018. O Partido dos Trabalhadores, enquanto não avançam as definições, marca passo entre apostar na hipótese Lula ou partir para entendimentos e composições com outras forças em torno de um outro candidato que possa ser confiável aos opositores do governo de Michel Temer.
A perspectiva de um apoio do PT à candidatura do ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, do PDT, a presidente, não encontra apoio dentro da legenda fundada por Lula. A presidente nacional petista, senadora Gleisi Hoffmann, descartou a aliança em torno de Ciro, argumentando que ele sempre foi um crítico impenitente do Partido dos Trabalhadores e dirigiu ofensas ao próprio ex-presidente Lula. Nos últimos dias, Ciro tentou contornar resistências, propondo-se a fazer uma visita a Lula na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, mas a própria juíza executora da pena atribuída a Lula vetou a visita do presidenciável pedetista. Enquanto isso, os petistas mais ortodoxos torcem o nariz para a hipótese de uma aliança em que Ciro ocuparia a cabeça de chapa e o PT indicaria o vice. Não há a menor chance disso prosperar, fulminou Gleisi Hoffmann.
Por Nonato Guedes
Enviado especial