Enquanto outros pré-candidatos ao governo da Paraíba atuam com desenvoltura, percorrendo municípios do interior, concedendo entrevistas, defendendo propostas e encetando contatos com lideranças, a vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, continua mergulhada no processo de consultas junto a setores da população para decidir se entra, ou não, no páreo majoritário deste ano. Ela se encontrou com um grupo de mulheres na Capital e tem agenda de reuniões programadas para outras cidades. Esposa do deputado federal Damião Feliciano, presidente do diretório regional pedetista, ela tem todo o apoio do marido para a pretensão de se lançar a cargo majoritário.
Lígia, entretanto, está praticamente escanteada no círculo do governador Ricardo Coutinho, do PSB, que apoia a candidatura do seu ex-secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos, João Azevedo, sob o argumento de que ele é o nome da sua confiança para dar continuidade aos programas que estão sendo executados desde a primeira gestão ricardista, iniciada em 2011. Técnico qualificado, que atuou em várias gestões na prefeitura de João Pessoa e teve participação decisiva no planejamento urbanístico atual da Capital, Azevedo nunca disputou mandatos eletivos. Chegou a ser cogitado e até lançado para a prefeitura pessoense numa das últimas disputas, mas foi preservado por Ricardo no governo, já que o atual chefe do Executivo tinha outros planos em relação a ele e não queria prescindir do seu concurso na materialização de obras de repercussão em todas as regiões do Estado.
Uma particularidade que chama a atenção dos analistas políticos na conjuntura pré-eleitoral na Paraíba é o fato de que Lígia, embora alijada pelo governador da disputa, mantém o discurso de que se considera partícipe de grandes investimentos realizados nos últimos quatro anos no Estado e defende os pontos positivos da gestão socialista, identificando avanços que teriam contribuído para a melhoria das condições de vida de populações pobres. Tudo isto a despeito do governador ter dado a entender, em sucessivas entrevistas, que não deposita confiança na vice-governadora para levar adiante o que chama de exitoso projeto administrativo posto em prática no Estado. Coutinho, inclusive, recorreu ao argumento de que permanecerá no mandato até o último dia, sem disputar uma cadeira ao Senado, em disputa na qual seria favorito, porque precisará se empenhar pela eleição de Azevedo, em quem aposta fichas na continuidade das ações desenvolvidas. O receio do governador é de que aventureiros, como ele classifica, venham a ser eleitos e conduzir o Estado a uma situação de retrocesso. Em relação a Lígia, já declarou que ela e seu grupo vinham tentando montar um governo paralelo na expectativa de que Ricardo se desincompatibilizaria para concorrer ao Senado e que Lígia seria efetivada na plenitude do cargo, podendo candidatar-se, então, à reeleição.
O deputado federal Damião Feliciano estranha as versões que têm circulado a respeito de suposta conspiração articulada pelo seu clã contra o atual governador Ricardo Coutinho, salientando que o gestor socialista não pode se deixar envenenar e desconhecer o comportamento de lealdade que ele e Lígia teriam demonstrado até agora, desde que ela foi procurada em Campina Grande, em 2014, na undécima hora do prazo para registro de chapa, com o convite de Coutinho para ser sua vice, representando o segundo maior colégio eleitoral da Paraíba. Lígia, por sua vez, tem evitado todas as perguntas de jornalistas e provocações para emitir desabafos ou críticas a atitudes do governador Ricardo Coutinho. Age como se não houvesse qualquer sintoma de estremecimento nas relações com o titular da cadeira do Palácio da Redenção. No contraponto, adversários de João Azevedo e do próprio governo Ricardo Coutinho empreendem gestões para tentar atrair o apoio do clã Feliciano.
O próprio pré-candidato por uma ala de oposição, Lucélio Cartaxo, do PV, irmão gêmeo do prefeito de João Pessoa, Luciano, que é apoiado ao governo pelo senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, entre outras lideranças influentes, afirmou durante uma visita a Campina Grande que está de braços abertos para receber a vice-governadora Lígia Feliciano como mais uma aliada. Nós temos interesse em que ela possa somar em prol dos paraibanos, trazendo a experiência vivenciada neste período em que é vice-governadora e tem cumprido missões oficiais relevantes, vinculadas, inclusive, à atração de empreendimentos capazes de gerar emprego e renda para a Paraíba, acentuou Lucélio. O senador José Maranhão, pré-candidato ao governo pelo MDB, já deixou claro, também, que não se opõe a uma composição com o clã Feliciano em apoio à sua postulação.
Nonato Guedes