Em entrevista ao SBT, gravada na última sexta-feira e levada ao ar ontem à noite, o presidente Michel Temer (MDB) admitiu a hipótese de desistir de postular a reeleição ao cargo nas eleições de outubro, passando a apoiar um candidato oriundo das forças políticas de centro, não descartando, nem mesmo, o nome do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que luta para se viabilizar no páreo pelo PSDB. Temer mencionou outros nomes como alternativas ao pleito presidencial, a exemplo de Henrique Meirelles, detentor da sua confiança a ponto de ter sido convocado para o ministério da Fazenda quando o emedebista se investiu no cargo na condição de vice de Dilma Rousseff (PT), por ocasião do impeachment desta em 2016.
Temer vinha se preparando para figurar na disputa presidencial, confiante em que sua gestão tomaria medidas de impacto em benefício da população, capazes de produzir dividendos eleitorais e, assim, favorecê-lo na corrida ao Planalto. A provável ausência do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva da disputa, em virtude de estar preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, condenado a 12 anos por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, estimulou amigos e interlocutores de Temer a trabalhar com a hipótese da sua candidatura, como parte da avaliação de que não haverá favoritos por antecipação. A impopularidade do governo de Temer, considerada inaudita por analistas políticos, contribuiu para frear o ímpeto dos aliados que cogitaram a sua candidatura e colocar em banho-Maria a proposta de candidatura.
De acordo com a revista Veja, o próprio Geraldo Alckmin não se animou em avançar nas negociações quanto a uma possível aliança com o MDB, que incluiria Henrique Meirelles como provávelvice. Dentro do MDB, alguns setores vinham barganhando a construção de uma coligação unindo o partido ao DEM e ao PP no intuito de chegar ao segundo turno da eleição presidencial. Nenhuma sigla, até agora, porém, se mostrou disposta a se atrelar a Temer e a seus minguados 6% de aprovação índice que tem sido aferido por pesquisas de institutos variados. Nos últimos dias, a imagem de Temer piorou com a convocação da sua filha Maristela para depor na sede da Polícia Federal em São Paulo, a fim de explicar o motivo pelo qual recibos de reformas feitas em sua casa foram encontrados no escritório de João Baptista Lima Filho, velho amigo do presidente, apontado por dois delatores como o homem que recebia propina em nome do chefe.
Reportagem da Folha de São Paulo dá conta de que a Polícia Federal investiga a relação entre reformas e compras de imóveis da família Temer e propinas que teriam sido recebidas pelo coronel Lima. A reforma na casa de Maristela e outra na casa da sogra de Temer, Norma Tedeschi, por exemplo, ocorreram no mesmo ano 2014 em que o delator Ricardo Saud, ex-diretor da JBS, declarou ter repassado l milhão de reais ao coronel Lima. Também naquele ano, um dos sócios da Engevix, José Antunes Sobrinho, disse ter dado l milhão de reais a Temer por intermédio do mesmo Lima, segundo sua proposta de delação que jamais prosperou. O presidente, em resposta, fez contundente pronunciamento à imprensa, que incluiu socos na mesa e a afirmação de que era alvo de mentiras. A possibilidade de o caso evoluir a ponto de ameaçar o mandato de Temer é nula porque a PF pediu uma prorrogação de 60 dias da investigação. Um sinal evidente da impopularidade de Temer, em todo caso, foi conferido por ele na semana passada quando foi a São Paulo tentar se solidarizar com vítimas do desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida. Acabou sendo xingado e vaiado, retirado às pressas e se deslocando para cidades do interior paulista que originalmente não constavam no roteiro. Temer, na verdade, vive seu pior momento desde que foi acusado na delação do empresário Joesley Batista.
Nonato Guedes, com agências