O impeachment de Dilma Rousseff (PT), que catapultou o então vice-presidente Michel Temer à presidência da República, deu-se no bojo de uma série de protestos populares por capitais e cidades do país contra a crise econômica e denúncias de corrupção generalizada no governo. Dilma havia sido eleita para seu segundo mandato com 51,64% dos votos válidos. A disputa foi considerada acirrada pelos analistas políticos. Os protestos foram ensaiados a partir de 15 de março de 2016 e pediam o impedimento ou a renúncia da presidente. Expoentes doentão PMDB, pressentindo o agravamento do desgaste de Dilma, passaram a articular uma manobra parlamentar cujo objetivo era destituir o governo petista. Uma vez afastada, Dilma Rousseff passou a empalmar a narrativa de golpe contra a sua gestão.
A falta de habilidade de Dilma para dialogar com o Legislativo resultou na eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para presidente da Câmara em fevereiro de 2015, com 267 votos, à frente do candidato governista Arlindo Chinaglia, do PT-SP, com 136 votos. Quando os protestos estouraram nas ruas, o governo sentiu-se acuado, tanto mais porque faltou a mobilização de sindicatos e de organizações de trabalhadores em defesa da chamada gestão de Frente Popular. Movimentos de feição conservadora como Vem pra Rua, Brasil Livre, Endireita Brasil e Revoltados OnLine capitalizaram a insatisfação e a desconfiança popular e dirigiram dezenas de manifestações pressionando políticos e a opinião pública. Até setembro de 2015, a Câmara dos Deputados já havia recebido 37 pedidos de impedimento da presidente. A crise foi precipitada quando falhou a negociação de bastidores para que fosse arquivado o pedido de cassação do mandato de Eduardo Cunha no Conselho de Ética da Câmara. O presidente da Câmara havia dito que não mantinha contas, dele ou de empresas, no exterior, mas as investigações da Operação Lava Jato, bastante adiantadas, provaram o contrário e foi iniciado o processo na Comissão de Ética. As bancadas do PT e PMDB não chegaram a um acordo que retiraria o processo de Cunha e não haveria admissibilidade de qualquer pedido de impedimento de Dilma. No dia 2 de dezembro de 2015, Eduardo Cunha acolheu a denúncia por crime de responsabilidade apresentada pelo procurador de Justiça aposentado Hélio Bicudo e pelos advogados Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal.
A sustentação baseava-se na publicação de seis decretos federais que estavam em desacordo com a Lei de Diretrizes Orçamentárias e com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Chamados de pedaladas fiscais, os decretos foram manobras contábeis do governo para fechar o ano fiscal. O processo no Legislativo tornou-se acelerado. A Comissão Especial instituída para analisar o impeachment aprovou o pedido por 38 a 27 votos. Em 17 de abril de 2016, o plenário da Câmara aprovou o relatório com 367 votos a favor e 137 contrários. O parecer foi encaminhado para o Senado, que criou Comissão Especial, a qual também aprovou a continuidade do processo por 15 a 5 votos. Em dois de maio, o Senado aprovou a abertura do processo por 55 a 22 votos. Dilma Rousseff foi afastada do cargo e o vice Michel Temer foi investido em caráter interino. Por três meses, Dilma e seu staff prepararam sua defesa, mas a votação final no Senado resultou em 61 votos pelo impeachment e 20 contra. Em 31 de agosto de 2016, Dilma Vana Rousseff se tornou a segunda mandatária da nação a perder o cargo.
Numa manobra de última hora, articulada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pela bancada do PT e em concordância com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, foram realizadas duas votações sobre o destino político da ex-presidente. Em separado, foi votada a perda de direitos de Dilma de exercer cargos públicos por oito anos. Nessa votação, 42 senadores votaram sim, mas eram necessários mais 12 votos para que a punição fosse aplicada. Eduardo Cunha, um dos principais atores da crise institucional do último período, também teve sua carreira interrompida, cassado por falta de decoro parlamentar em 12 de setembro de 2016. A 19 de outubro, despojado do foro privilegiado, o ex-deputado foi preso em Brasília. Por determinação do juiz Sérgio Moro, Cunha foi detido preventivamente, por tempo indeterminado, acusado de receber propina de contrato de exploração de petróleo em Benin, na África, bem como manter contas na Suíça para lavar o dinheiro. A Operação Lava Jato ganhou notoriedade por ser a maior e mais profunda investigação sobre corrupção e lavagem de dinheiro, efetuada no Brasil. Teve início em março de 2014, a partir da Justiça Federal em Curitiba. Em meio a versões sobre articulações para esvaziar e desmoralizar a Operação Lava Jato, a investigação teve continuidade e ainda hoje está de pé, tendo resultado em inúmeras prisões de agentes políticos, empresários e políticos com mandato. O grande feito da Lava Jato foi a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que há um mês está recolhido a uma cela na Superintendência da Polícia Federal na capital paranaense.
Nonato Guedes