O economista Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, alerta que a decepção do eleitorado brasileiro com o processo político pode vir a provocar um desastre. De acordo com ele, a decepção foi agravada devido à desastrosa incompetência do governo de Dilma Rousseff (PT) e dos escândalos de corrupção. Isso pode influenciar a busca de um novo nome, fora da classe política e não envolvido em corrupção. Se isso acontecer, será um desastre para o país. Infelizmente, muitos pensam que basta escolher um bom nome, sem se dar conta de que tão difícil quanto se eleger é governar um país complexo e carente de reformas impopulares, acrescentou. As declarações de Maílson, que é colunista da Veja, foram prestadas ao jornal Correio da Paraíba.
– Além disso, ainda há a influência da recessão econômica, que demora a regredir salientou Maílson, que ocupou a pasta da Fazenda no governo José Sarney, na década de 80. O economista pontuou que o exercício do mandato de presidente requer mais do que paciência para lidar com as constantes dificuldades, mas também habilidade para conduzir negociações políticas complexas e lideranças, para ter o apoio da sociedade. Para ele, tais qualidades não surgem da noite para o dia, mas resultam de longos anos de exercício de cargos públicos e da atividade política. Um novato pode botar tudo a perder e correr o risco de não terminar o seu mandato. Pode-se não gostar, mas em todo o mundo os chefes de governo costumam ser escolhidos entre experimentados e hábeis políticos, não entre noviços.
Um outro alerta de Maílson: quem estiver esperando a campanha eleitoral para verificar os temas mais caros aos futuros candidatos deve ter em mente que, de modo geral, os temas espinhosos são evitados, a exemplo da reforma da Previdência e de privatizações. Os compromissos com temas impopulares, ponderou Maílson, costumam ser assumidos no discurso de posse do vencedor. Nesse caso, se o ganhador for um candidato de centro, favorável ao prosseguimento das reformas de Temer e de sua ampliação, os temas econômicos tendem, a meu ver, a abranger cinco campos: reforma da Previdência, reforma tributária, reforma do Estado, privatização e investimentos privados em infraestrutura, teorizou ele. De acordo com a análise do economista, a economia continua em processo de recuperação da maior recessão da história, mas em ritmo inferior ao esperado. A expectativa é de crescimento do Produto Interno Bruto em 2,8% neste ano.
O ex-ministro da Fazenda arremata suas declarações: “As eleições presidenciais e seus riscos começam a entrar no radar dos investidores, mas isso tem afetado apenas a taxa de câmbio. O crescimento e a inflação não devem sofrer. Se elegermos um populista de esquerda ou de direita, o cenário tende a piorar, mas suas consequências serão mais sentidas a partir de 2019”.