A TV Globo promete exibir no Fantástico na noite deste domingo uma reportagem especial sobre a atuação de uma máfia que foi desbaratada no futebol paraibano, especializada em manipular resultados do campeonato estadual e adulterar documentos, entre inúmeras irregularidades que comprometem árbitros e dirigentes de clubes. Uma ação conjunta da Polícia Civil e do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) foi montada para desarticular o esquema fraudulento. Denominada de Operação Cartola, a investigação foi deflagrada em oito de abril, um dia após a final do campeonato paraibano.
Na sua edição de hoje, o jornal Correio da Paraíba antecipa revelações extraídas dos autos do inquérito, mediante transcrições de áudios que revelam a escolha de árbitros que seriam escalados nos jogos do campeonato paraibano. Há envolvimento de dirigentes de clubes como Botafogo, Sousa, Treze e Campinense, bem como membros da Federação Paraibana de Futebol e árbitros. Nos autos constam transcrições de conversas que envolvem Amadeu Rodrigues, presidente da PFP, Marcos Souto Maior Filho, advogado da FPF, Zezinho do Botafogo, dirigente do clube pessoense e ex-vereador, Breno Morais, vice-presidente de futebol do Belo e José Renato, então presidente da Comissão de Arbitragem da FPF. As ligações telefônicas gravadas oferecem detalhes de acertos entre os integrantes da máfia e há registros, também, de ameaças de morte.
Um dos jogos mencionados nos relatórios foi a partida entre Botafogo-PB e CSP, realizada no dia 11 de fevereiro no Estádio Almeidão, em João Pessoa. O confronto acabou empatado em 3 a 3, mas o resultado foi o que menos chamou a atenção. Após o apito final, objetos foram arremessados dentro do campo. Na súmula, o árbitro Francisco Santiago relata o incidente mas afirma que não conseguiu identificar de qual torcida partiram os arremessos. A investigação, entretanto, dá conta de que a referida súmula foi feita de maneira ilícita. Em algumas das conversas gravadas, o presidente do Campinense, William Simões, aparece negociando com José Renato, presidente da comissão de arbitragem, a escolha de árbitros para uma partida. O Treze é igualmente mencionado nos relatórios, havendo flagrante, também, de conversas mantidas por Aldeone Abrantes, presidente do Sousa. Zezinho do Botafogo aparece numa ligação para o deputado estadual Sérgio Frota, do PSDB do Maranhão, para articular sobre a arbitragem do jogo entre Botafogo e Altos-PI pela última rodada da fase de grupos da Copa do Nordeste. Zezinho pede ao deputado o nome do juiz, que seria do Maranhão. Em outro momento, Zezinho passa o telefone para Breno e eles conversam rapidamente. O deputado pede que a conversa continue à noite e promete equacionar o problema. A partida em questão foi vencida pelo Botafogo pelo placar de l a 0.
Esta é a segunda vez, em pouco tempo, que a Paraíba figura negativamente no noticiário da grande imprensa do Sul devido a irregularidades. Há poucos dias, a TV Globo publicizou o escândalo verificado na cidade de Cabedelo, com a compra do mandato do prefeito José de Lucena (Luceninha) por parte do grupo que levou o ex-candidato Leto Viana ao comando da prefeitura municipal. Leto foi preso e continua sendo recolhido a um Batalhão da Polícia Militar em João Pessoa. As investigações alcançaram vereadores, suplentes de vereadores, o empresário Roberto Santiago, o radialista Fabiano Gomes, que confessou ter levado mala de dinheiro para Luceninha e outras figuras de destaque na cidade portuária. Batizada de Xeque-Mate, a operação que desbaratou os escândalos na prefeitura de Cabedelo ainda colhe outros subsídios tidos como indispensáveis para firmar convicção sobre o grau de envolvimento de personagens citados, bem como o montante dos danos causados ao erário no bojo da armação que foi conduzida.