Causou comoção nos meios políticos e em setores da sociedade a notícia da morte, na madrugada de hoje, em Campina Grande, do deputado federal Rômulo Gouveia (PSD), aos 53 anos de idade. Rômulo vinha se tratando de uma infecção urinária mas foi vitimado por um enfarte, no hospital Santa Clara, para onde foi levado às pressas. Ele foi vice-governador da Paraíba na primeira gestão de Ricardo Coutinho, tendo rompido com ele quando o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) também se desalinhou do gestor socialista. Por duas vezes, Rômulo foi, também, presidente da Assembleia Legislativa do Estado.
Filho de pais com origens humildes, Rômulo José de Gouveia nasceu na Rainha da Borborema a 19 de março de 1965. Formado em Direito, iniciou militância política como presidente de Sociedades de Amigos de bairros em Campina, tornando-se vereador em 1992. Pai de quatro filhos e casado com Eva, que também foi deputada estadual, Rômulo ensaiava passos em 2010 para concorrer à reeleição à Câmara Federal quando foi atropelado pelos acontecimentos, refletidos na aliança do PSDB, a que era filiado, em apoio à candidatura de Ricardo ao governo. A sua inclusão na chapa, como candidato a vice-governador, sinalizou o retorno de Campina Grande ao poder estadual e teve o aval dos Cunha Lima, a quem Rômulo era ligado politicamente.
Contando, à época, com mais de 20 anos de carreira política, ele aceitou o desafio e lançou a mulher, Eva, à Assembleia Legislativa. Foi eleita. Em abril de 2011, ele protagonizou uma reviravolta ao anunciar sua desfiliação do PSDB e seu consequente ingresso no recém-criado PSD, articulado nacionalmente pelo ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Explicou, diante de críticas, que estava reproduzindo o que Ronaldo e Cássio Cunha Lima fizeram ao deixar o PMDB por falta de espaços de convivência, ingressando no PSDB. Ou, como Ricardo Coutinho, que migrou do Partido dos Trabalhadores para o PSB a fim de garantir autonomia de espaços e o êxito de projetos como a disputa ao governo do Estado.
Rômulo disse a jornalistas que gostava de se sentir bem na legenda em que estava militando, e frisou que dentro do PSDB não obtivera maior reconhecimento, principalmente por parte da cúpula nacional. Deu como exemplo que, mesmo já tendo sido empossado como vice-governador em 2011 ao lado de Ricardo Coutinho, não recebera um telefonema de cumprimento por parte da direção nacional tucana. Também não era ouvido na tomada de decisões relacionadas com a conjuntura política paraibana. É natural que eu procure me acomodar melhor, concluiu, a propósito da sua desfiliação do ninho tucano e migração para o PSD. Ex-candidato a prefeito de Campina Grande por duas vezes, em 2004 e 2008, tendo perdido duas vezes para Veneziano Vital do Rego (hoje PSB), Rômulo sentia-se incomodado no PSDB com as divergências entre Cícero Lucena e Cássio Cunha Lima, como rescaldo da eleição de 2010. Com carta branca para comandar o PSD no Estado, ele se destacou na Câmara Federal pelo poder de articulação e pelos espaços conquistados em inúmeras comissões temáticas.
Por ocasião do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), Rômulo votou favoravelmente ao afastamento da ex-mandatária por considerar que havia gravidade em denúncias formuladas e que embasaram o ritual legislativo que culminou com o impedimento. À frente da presidência da Assembleia Legislativa, Rômulo foi presença assídua em conclaves da Unale União Nacional dos Legislativos. Como vice-governador, procurou atuar nos bastidores para contornar insatisfações ou encaminhar reivindicações, contando como trunfo valioso o seu decantado jogo de cintura, que o levava a repetir: Em política, não tenho inimigos, tenho adversários. O vice-governador teve a oportunidade de assumir a titularidade do Executivo estadual em várias ocasiões, diante de viagens de Ricardo Coutinho, inclusive, ao exterior. Teve papel decisivo na atração do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, para os quadros do PSD e se empenhou para torná-lo candidato a governador em 2018 com o apoio de partidos de oposição. Frustrou-se quando Luciano migrou do PSD para o PV e, ainda por cima, abdicou da candidatura ao governo, optando por lançar o irmão gêmeo, Lucélio, também atraído pelo Partido Verde. Mesmo assim, Rômulo manteve-se no campo das oposições, ao lado do senador Cássio Cunha Lima e de outras lideranças do Estado.
Nonato Guedes