O Partido dos Trabalhadores começa a contabilizar perda de espaços preciosos em debates realizados por programas de televisão ou através de redes sociais tendo como pauta a sucessão presidencial. Essa perda é atribuída à indefinição experimentada pelo PT sobre a candidatura própria a presidente da República, em consequência da condenação e prisão que vem sendo cumprida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até então tido como a opção natural do petismo à sucessão de Michel Temer (MDB). Desde a prisão de Lula no dia sete de abril, por ordem do juiz Sérgio Moro, o PT perdeu mais de quatro horas de espaço na mídia, o que custou à candidatura petista a audiência de pelo menos 310 mil eleitores na TV aberta, só na Grande São Paulo, conforme levantamento realizado pelo Ibope.
Na conjuntura atual, com Lula preso e a indefinição sobre candidatura petista a presidente da República, o partido deixa de participar de sabatinas na internet e de debates em emissoras de TV, como a Bandeirantes, que são as primeiras a promover esse tipo de confronto entre presumíveis candidatos ao Palácio do Planalto. No contraponto, postulantes como Ciro Gomes, do PDT, Marina Silva, do Rede Sustentabilidade, João Amoêdo, do Partido Novo, Manuela DAvilla, do PCdoB, Rodrigo Maia, do Democratas, Geraldo Alckmin, do PSDB e Jair Bolsonaro (Patriotas) são requisitados ou convidados para formular intervenções e expor suas propostas diante da eventualidade de ascenderem ao cargo supremo da magistratura brasileira.
O cenário preocupa dirigentes nacionais do Partido dos Trabalhadores e o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está recolhido a uma cela na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Há implicações políticas e jurídicas por trás da participação do PT nos debates que já vêm sendo realizados. A senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional da agremiação, tem sugerido que expoentes petistas, sejam parlamentares ou não, participem ativamente dos debates como representantes da candidatura que o partido vai lançar. Do ponto de vista jurídico, esse argumento é tido como insubsistente, dado que a Justiça não opera em cima de hipóteses mas de fatos concretos. Por outro lado, os próprios adversários mais acirrados do PT tomam a iniciativa de provocar a Justiça com vistas a não aceitar o que seria uma aberração a participação de representantes de uma candidatura invisível e que, teoricamente, está sub-judice, diante do fato de que Lula cumpre prisão, condenado que foi pelo juiz Sergio Moro a 12 anos e um mês de detenção.
O Partido dos Trabalhadores, enquanto isso, se consome em divergências internas sobre o rumo a tomar, diante do ineditismo da situação o fato de que o seu principal nome para disputar a presidência da República cumpre pena de prisão. Gleisi Hoffmann lidera uma corrente radical que defende o registro da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo com a convicção de que dificilmente isto será assegurado, por ferir preceitos da legislação vigente. A estratégia da cúpula petista é focada no sentido de sensibilizar os eleitores e manter uma reserva eleitoral para o PT que possa alavancar candidaturas alternativas à de Lula. Em tese, dois nomes despontam nas preferências internas para a hipótese da candidatura própria o do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que teria a simpatia pessoal do ex-presidente Lula, e o de Jaques Vágner, ex-governador da Bahia, que atenderia a um requisito lembrado por Lula em conversa recente com dirigentes petistas a necessidade de privilegiar o Nordeste na cabeça de chapa petista. Essas duas opções são consideradas frágeis e não empolgam o PT, já havendo desalento quanto às chances de fortalecimento da legenda nas eleições de outubro próximo.
Uma outra alternativa posta na mesa empolga menos ainda o PT a hipótese de apoio à candidatura do ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT) a presidente da República, tendo um nome do PT como candidato a vice. A reação de hostilidade a Ciro pode ser medida pelo que proclamou a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT e interlocutora pessoal de Lula: No PT, o nome de Ciro não passa, nem com reza brava.