Dono do lance que arrematou o tríplex atribuído ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Guarujá, em São Paulo, o empresário Fernando Costa Gontijo também teve pendência com a Justiça, na Paraíba. Ele foi condenado em primeira instância pela Justiça Federal por improbidade no âmbito da Operação Confraria, deflagrada em 2005 pela Polícia Federal para apurar contratos fraudulentos em licitações na prefeitura de João Pessoa. Na Operação, o ex-prefeito Cícero Lucena (PSDB) foi condenado, junto com Gontijo e outros implicados, ao pagamento de multa de R$ 852 mil referente ao superfaturamento de obras, cujos recursos eram oriundos de convênios celebrados entre a prefeitura e o governo federal.
Na ação, Gontijo figurou como representante da Via Engenharia no processo de licitação marcado por suspeitas de fraude e favorecimento. Cícero Lucena chegou a ser preso pela Polícia Federal, onde foi liberado depois de prestar depoimento. Ele foi prefeito da Capital por duas vezes, vice-governador da Paraíba, Secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo Fernando Henrique Cardoso, e cumpriu mandato de senador, tendo exercido a primeira secretaria do Senado. Anunciou seu afastamento da política depois de ter sido derrotado quando tentou, pela terceira vez, em 2012, voltar à prefeitura de João Pessoa. Perdeu para Luciano Cartaxo, ex-PSD, hoje PV, reeleito em primeiro turno em 2016. Cícero foi vice na gestão de Ronaldo Cunha Lima, empossada em março de 1991, e chegou a exercer a titularidade do governo por dez meses, quando Cunha Lima se desincompatibilizou para concorrer ao Senado, sendo vitorioso ao lado de Humberto Lucena. Originário do PMDB, Cícero Lucena migrou para o PSDB acompanhando os Cunha Lima após desentendimento deste com o atual senador José Maranhão, que estava à frente do governo do Estado em 1998.
O empresário Fernando Gontijo, abordado pela imprensa sobre a pendência judicial na Paraíba, estranhou que um caso ocorrido há décadas esteja sendo ressuscitado e garantiu que foi vítima de uma confusão de representantes da Justiça, a quem recorreu da condenação, no âmbito do Tribunal Regional Federal da Quinta Região. Ele teria sido confundido com um acionista da empresa e diz que esta foi a versão encampada ao final do processo. Fernando Costa Gontijo arrematou o tríplex atribuído a Lula com um lance feito nos últimos minutos, ontem. Ele ofereceu R$ 2,2 milhões por considerar o preço adequado e avaliar que o simbolismo poderia agregar valor ao imóvel. Estou sempre atento às boas oportunidades e a minha percepção é de que fiz um bom investimento, diz o dono da Guarujá Participação, empresa criada com a finalidade específica de fazer a compra.
Aos 64 anos, Gontijo contou que trabalha há 38 anos com imóveis em Brasília, tanto no ramo de construção como de investimentos, possuindo mais de dez empresas no ramo. O tríplex do Guarujá ganhou notoriedade diante da denúncia feita pelo juiz Sérgio Moro de que fora doado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como suposto pagamento de propina por favorecimentos obtidos pela construtora OAS na gestão do petista. Em sucessivos depoimentos, Lula sempre negou ser proprietário do tríplex, mas o imóvel acabou sendo o pivôt da condenação de Lula a doze anos de prisão, também por suposta lavagem de dinheiro. Gontijo nega ter ligações políticas e diz que viu uma boa oportunidade no apartamento do edifício Solaris, no Guarujá, que fica em frente à praia de Astúrias. Como empresário, já passou pela Via Engenharia, também investigada no caso do mensalão do Distrito Federal que envolveu o ex-governador José Roberto Arruda. Gontijo não decidiu ainda o que vai fazer com o tríplex. Vou aguardar a homologação da compra, a carta de arrematação e então vou definir a estratégia de projeto para o imóvel, diz. Segundo ele, não valia a pena esperar por um segundo leilão com preço menor porque poderia atrair mais interessados. O tríplex do condomínio Solaris tem 215 metros quadrados de área privativa, quatro dormitórios, sendo duas suítes, sala com varanda, piscina, churrasqueira e duas vagas de garagem. Um elevador integra os três andares. Segundo a administração do condomínio, há débitos no valor estimado de R$ 47 mil que deverão ser pagos pelo arrematante.
Nonato Guedes, com UOL e O Estado de S. Paulo