Mediador de todos os debates políticos da Globo Nordeste, desde a primeira eleição para governadores estaduais após a abertura política, de 1982 para 2012, o jornalista Francisco José conta no seu livro 40 Anos No Ar A Jornada de Um Repórter por Cinco Continentes que foi convidado oficialmente para ser candidato a vice-prefeito do Recife. Recusou a oferta alegando que sua vocação era o jornalismo e que se dispunha de algum potencial de confiança do eleitorado isto se devia à seriedade do trabalho que desenvolvia na emissora. O povo confiaria em mim até o momento em que assinasse ficha em qualquer partido político, avaliou, ainda.
Argumentos aparentemente convincentes não faltavam para arrastá-lo para o território da política. Em 1988, o então deputado federal e ex-ministro do Interior no governo Sarney, Joaquim Francisco, candidato a prefeito do Recife, foi à casa de Francisco José com uma pesquisa do Ibope em mãos. Queria que o repórter fosse vice na sua chapa e tentou persuadi-lo mostrando a pesquisa. Salientou, então: Eu vou ganhar a eleição para prefeito, não há dúvida nenhuma. E dois anos depois vou ser o governador de Pernambuco e você assume a prefeitura, disse ele, que ouviu um não de bate-pronto de Francisco José como resposta. Joaquim Francisco realmente ganhou as duas eleições e o seu vice se tornou prefeito. Fiquei curioso! Se ele estava tão certo de que ia ganhar com base na pesquisa, por que queria que eu fosse seu parceiro de chapa? indagou Chico José.
O jornalista decidiu perguntar a Joaquim Francisco a razão do convite, uma vez que nunca se envolvera em política, a não ser na mediação dos debates e nas reportagens factuais. Sempre considerou que jornalistas não devem envolver ideologia pessoal com a atividade jornalística, que deve ser, tanto quanto possível, isenta. Joaquim Francisco relatou que havia dois itens na pesquisa: em quem você mais confia e quem é a pessoa mais conhecida de Pernambuco? A resposta para ambas as perguntas era o repórter Francisco José. Na conversa com Joaquim Francisco, Francisco José agradeceu o convite, mas nem pensou em aceitá-lo. De resto, o repórter já estava credenciado para cobrir a Olimpíada de Seul e firmara a convicção de que jamais deixaria de ser jornalista.
No livro autobiográfico que chegou a lançar em João Pessoa, o repórter Francisco José mencionou ter passado 30 anos no comando dos debates entre candidatos do Nordeste. Houve um dia em que mediou pelo menos três debates pela manhã, os candidatos ao governo do Rio Grande do Norte foram para o estúdio, no Recife, onde se fez a gravação. À tarde, chegaram os candidatos ao governo da Paraíba Wilson Leite Braga (PDS), Antônio Mariz (PMDB) e Derly Pereira (PT). À noite, ao vivo, foi transmitido o debate histórico com apenas dois candidatos de Pernambuco: o lendário Miguel Arraes, que havia retornado do exílio na Argélia, e José Múcio, que depois tornou-se ministro do Tribunal de Contas da União. Foi um confronto político de alto nível que marcou a volta de Arraes ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo, de onde fora deposto entre a noite de 31 de março e a madrugada de primeiro de abril de 64. Os três debates foram ao ar, simultaneamente, durante a noite, em Natal, João Pessoa e no Recife. Francisco José recorda que nos primeiros encontros entre candidatos a prefeitos e governadores, não havia as regras rígidas que existem atualmente, quando os textos são padronizados em todos os Estados e os mediadores se limitam a marcar o tempo dos candidatos. No sistema antigo, num dos blocos, as perguntas eram feitas pelo próprio apresentador, depois de reunião com equipes de produção, constatou ele.
Nonato Guedes