A senadora paranaense Gleisi Helena Hoffmann, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, ao invés de contribuir para submeter o partido do mensalão e do petróleo a uma recuperação de sua imagem profundamente negativa junto à opinião pública, entra com sua parte para ampliar o lodaçal em que o lulopetismo se encontra. A Polícia Federal acaba de concluir, com base em minuciosa investigação empreendida por meses a fio, que a senadora-presidente do PT locupletou-se do ministério do Planejamento, ocupado por seu marido, Paulo Bernardo, na Era PT, para angariar vantagens financeiras indevidas em proveito próprio, mediante contratos falaciosos ou de natureza nitidamente suspeita.
A rigor, não há grande surpresa na notícia do envolvimento de Gleisi, que há tempos frequenta o noticiário com versões sobre ilicitudes cometidas juntamente com o marido. Paulo Bernardo chegou a ser preso em meio a um rumoroso caso de desvio de recursos oriundos de fundos de pensão área do governo que escolheu como sua especialidade para participar do butim em que se transformaram os governos petistas, tanto os de Lula como os de Dilma Rousseff. O nariz empinado da senadora Gleisi, a denotar arrogância por ocasião da prisão de Lula em São Bernardo do Campo (ela chegou a se oferecer para ficar com Lula na prisão, em sinal de protesto), apenas confirmou que Lula e a cúpula petista fizeram uma escolha errada ao incensar Hoffmann para dirigir o partido. Ela não demonstra apetite para a política e nem aptidão ou competência para estruturar o partido para as eleições deste ano, recompondo pelo menos parcialmente as inúmeras perdas que foram sendo acumuladas à proporção que cabeças coroadas do petismo foram caindo nas malhas da Lei, como os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, o ex-tesoureiroDelúbio Soares, entre outras figuras de projeção.
Gleisi sempre esteve na linha de tiro na mídia, em meio a denúncias que vazaram de órgãos de investigação que operam no país e que ficaram encarregados nos últimos anos de bisbilhotar, em alguns casos desvendar com lupa, as maracutaias cometidas pelo braço criminoso do Partido dos Trabalhadores. Daí ter pipocado um sentimento de surpresa com a ascensão da Sra. Hoffmann ao comando da agremiação pior ainda, com a chancela ou o aval declarado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A troca de bastão no Estado-Maior do Partido dos Trabalhadores passou das mãos de um burocrata inexpressivo, Rui Falcão, que atuava mais como pau-mandado de Lula e outros caciques, para as mãos de uma senadora gananciosa, arrivista, que exibe pose aristocrática em contradição com o obreirismo que certas figuras exponenciais do petismo lograram ostentar para, com isto, obter credibilidade na tentativa de identificação ou enquadramento no perfil de uma legenda que privilegiava, em tese, os deserdados de riqueza ou de fortuna.
Ninguém mais anti-PT do que Gleisi Hoffmann, que nunca foi uma teórica respeitada dentro da agremiação ou em círculos intelectuais, que jamais dissertou com conhecimento de causa sobre o enredo de constituição do Partido dos Trabalhadores e os espaços políticos que essa agremiação poderia ocupar como alternativa ao cenário dominado por legendas conservadoras e cevadas na corrupção desenfreada. Gleisi só se afinou com o PT no capítulo da corrupção bandeira a que o partido aderiu com uma voracidade invejável, desde que logrou alçar ao poder federal, primeiramente por intermédio de Lula, na sequência com a presença de Dilma Rousseff, esta atropelada por um processo de impeachment que a defenestrou em lances de jogo rápido, confirmadas algumas denúncias de prática de pedaladas fiscais, associadas a falcatruas dentro da esfera de poder enfeixada. Escolher Gleisi para dirigir o Partido dos Trabalhadores, com o prontuário de acusações que ela já ostentava, foi um erro palmar de Lula e de outros expoentes da cúpula. Equivaleu a colocar a raposa no galinheiro,com a ressalva de que o PT, enquanto partido político, tem sido dizimado em matéria de finanças ou de recursos face aos enormes gastos dispendidos para devolver o que foi surrupiado do povo brasileiro, sem falar em despesas adicionais com advogados caríssimos, tanto mais caros diante da ingratidão de tarefas a eles destinadas, tais como a de defender mensaleiros corruptos e notáveis larápios do dinheiro público.
Talvez, ainda que por vias oblíquas, haja alguma lógica na ascensão de Gleisi Hoffmann à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores. Ela teria sido ungida com a missão não revelada por Lula de ser a coveira-mor do PT. É uma presidente que não tem articulação com as seções estaduais do partido, que não sabe por onde recomeçar um trabalho de inflexão de mudança a fim de dar sobrevida à legenda e que está, ela mesma, enrolada numa teia de acusações de grosso calibre, dividindo com o marido Paulo Bernardo o ônus de acusações gravíssimas. O resultado das eleições deste ano tende a mostrar o completo esfacelamento do PT, depois de pouco mais de uma década pintando e bordando dentro do governo. Para fechar com chave de ouro esse ciclo, escalou-se Gleisi Hoffmann, a gestora desastrada, a política sem liderança, a caricatura de um ramo social introjetado no PT e que, na aparência, não tem nada a ver com trabalhadores a quem lhe cabe representar. É a negação do partido que se esmerou tanto em permanecer por mais tempo no poder. Desse ponto de vista, Gleisi parece ser a pessoa certa na hora certa e no lugar certo.
Nonato Guedes