Pioneira na comprovação da relação do zika vírus com a microcefalia, a médica paraibana Adriana Melo, que atua em Campina Grande, admitiu a existência de estudos prevendo que o vírus volte em 20 anos, talvez antes. Pessoalmente, ela diz que é cedo para falar nisso, daí a recomendação do combate ao mosquito transmissor até que haja certeza ou tratamento adequado. Laureada nacionalmente pela sua dedicação ao tema e pelos estudos que desenvolveu, a doutora Adriana revelou os novos prognósticos numa entrevista concedida à jornalista Fernanda Figueirêdo, publicada na edição dominical do Correio da Paraíba.
Ela falou sobre os primeiros desafios que surgem após dois anos do nascimento da geração de crianças com a síndrome zika no Nordeste. Este ano, após muita luta e desprendimento de projetos pessoais para ajudar uma causa de interesse público, Adriana Melo inaugurou a sede do Instituto de Pesquisa Joaquim Amorim Neto em Campina Grande, tendo como objetivo fornecer tratamento às vítimas de microcefalia e síndrome congênita do zika vírus, além de prevenção, assistência e pesquisa acerca da doença. Adriana, que tem doutorado pela Unicamp e há mais de 20 anos trabalha com medicina fetal, ainda luta para relacionar os motivos do surgimento da doença, que, segundo teme, pode reaparecer e fazer novas vítimas.
Textualmente, a médica disse ao Correio da Paraíba: Em relação à doença temos descoberto novas coisas a cada dia. No começo, vimos que são crianças que podem ter além do dano neurológico o dano visual e dano auditivo. Problemas também na deglutição dessas crianças são recorrentes, até pelo dano neurológico. Elas têm problemas ortopédicos, alterações no quadril, na coluna, infecções urinárias de repetição por conta do dano neurológico na bexiga, entre outras dificuldades. Estamos descobrindo as sequelas nessas crianças a partir do momento que elas vão crescendo. Lembrar que essa é a primeira geração que teve microcefalia decorrente do zika vírus no mundo. Então, estamos descobrindo essa doença, e é de extrema importância que a gente possa intervir o mais cedo possível nas alterações que estamos detectando.
Adriana Melo, indagada se quem já teve zika pode ter novamente, respondeu: Parece que essa doença confere uma imunidade ao portador, ou seja, se você teve zika, a chance de você ter de novo é muito baixa, a não ser que exista uma mutação como na dengue, onde há quatro tipos. Mas, por enquanto, o que sabemos é que uma pessoa só pode ter o vírus uma vez. No organismo, esse vírus pode ficar por mais tempo, por mais de seis meses, principalmente no sêmen, por isso a orientação nos casos suspeitos é que se use preservativo, além do repelente. Temos orientado, também, que se a mãe teve zika deixe para engravidar pelo menos seis meses depois. Outra pesquisa de que o Ipesq está participando sugere que parece seguro engravidar depois de ter zika. A médica alertou que nem o Brasil nem qualquer outro país pode se sentir seguro, como se estivesse livre do zika. É um tipo de vírus que a gente chama de RNA Vírus, que pode reaparecer. Todos os cuidados devem ser redobrados, então, para que não tenhamos um novo surto, salientou Adriana Melo.