O livro O Voto do Brasileiro, do cientista político Alberto Carlos Almeida, contraria analistas que consideram a eleição presidencial de outubro próximo como a mais imprevisível desde 1989, devido à implosão da classe política nacional. O autor acha muito provável que o país repita o padrão dos pleitos de 2006, 2010 e 2014, quando o Nordeste votou em peso nos candidatos do PT e o Centro-Sul, sobretudo São Paulo, acompanhou os postulantes apresentados pelo PSDB. Na sua visão, a tendência eleitoral no país está cristalizada. Ou seja: mesmo com importantes variações de emprego, renda, taxas de câmbio e de juros, inflação e crescimento do PIB ao longo da última década, o eleitor apertou o botão confirma de maneira absolutamente previsível.
– Cada uma das três eleições foi muito diferente, porém, seus mapas de votação são muito semelhantes afirma Alberto Carlos Almeida, acrescentando: Apesar do que há de aleatório, de ano para ano, ocorre algo de sistemático em nossas eleições. Autor de livros polêmicos como A Cabeça do Brasileiro e Quem disse que não tem discussão?, Almeida divide o mapa eleitoral contemporâneo em dois polos principais, entre vermelhos e azuis. O maior é o Nordeste petista, que em 2014 foi responsável por 27% dos votos válidos. Ele é antagonizado por São Paulo, fortaleza tucana que abocanha 23%.
De acordo com o livro, alguns fatores ajudam a explicar a estabilidade do desenho. O mais importante deles é a renda: quanto pior o nível socioeconômico, maior é a penetração petista. Isto porque os mais pobres tradicionalmente votam em legendas de centro-esquerda que dão prioridade ao Estado como agente indutor da atividade econômica e têm a luta contra a igualdade de renda como discurso oficial. Já as classes média e alta seguem a centro-direita, que prega menor regulação governamental como instrumento para acelerar a economia. Nem sempre assim, deixa claro o cientista. Na esteira da estabilidade trazida pelo Plano Real, Fernando Henrique Cardoso coloriu o Nordeste com o azul tucano em 1998, vencendo logo no primeiro turno. A vantagem foi mantida quatro anos depois, na disputa entre José Serra e Lula. O que mudou? A chegada do Bolsa Família. No primeiro ano do governo Lula, em 2003, o ex-presidente fez do programa a marca registrada de sua administração e a transferência de renda irrigou de forma inédita a economia de rincões sertanejos e periferias de capitais. Com isto, solidificou-se sua aprovação no eleitorado mais pobre, que se sente dependente do governo para a manutenção do bem-estar.
Em matéria para a Veja sobre o livro do cientista político, Ernesto Neves compara: ´É como se o PT tivesse encontrado um nicho de mercado para atuar e fidelizar seu público sem que houvesse concorrência. A sigla pôde, assim, utilizar um arsenal de benefícios que inclui ainda as cotas, o Luz para Todos e o Prouni. Já a classe média paulista, que rejeita a iniciativa e depende menos do governo, prefere seguir com o partido que defende uma gestão mais profissional nas contas públicas. PT e PSDB se alternam ao Planalto desde 1994, num universo de 35 legendas registradas no Tribunal Superior Eleitoral. São as duas forças que dominam a política brasileira na Nova República e isto acontece porque, uma vez no poder, as duas legendas foram competentes em costurar uma rede de apoios e capilaridade que as alçou a essa condição.
O roteiro sem surpresas sugerido por Almeida, conforme Veja, parece cada dia mais provável, quando nomes alheios à cena tradicional, os chamados outsiders, pularam fora da corrida presidencial, como o apresentador de televisão Luciano Huck e, mais recentemente, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Na visão do escritor, há certa vantagem para a esquerda mesmo preso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve transferir boa parte do seu capital eleitoral para outro candidato da legenda. Por ora, o único fator capaz de complicar a equação PT-PSDB parece ser o deputado Jair Bolsonaro, um capitão reformado do Exército, que virou desafio para a direita, pois rouba votos de Geraldo Alckmin. Mas não se descarta que o fenômeno Bolsonaro venha a murchar nas eleições, como se deu com Ciro Gomes em 2002 e Marina Silva em 2014. Conclui Veja: Faltando cinco meses para a eleição presidencial, é difícil antecipar se a tese do autor está correta. Apenas as urnas têm a resposta. Mas com Alckmin patinando nas pesquisas e o PT insistindo na candidatura de um preso, não se pode negar que é uma tese ousada.