O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo preso em Curitiba e condenado a 12 anos e 1 mês de prisão pelo juiz Sergio Moro, decidiu desafiar os prognósticos e a própria legislação. As versões das últimas horas dão conta de que ele está dando retoques num manifesto a ser divulgado à Nação, em que praticamente sacramenta a sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto. Isto quer dizer que ele decidiu correr riscos ou confrontar o Judiciário brasileiro. Lula, entretanto, estaria sendo estimulado pelas atitudes condescendentes da presidente do Supremo, Cármen Lúcia, que não parece ter pressa em tomar qualquer atitude contra o ex-mandatário.
Em carta pública divulgada recentemente no site do Partido dos Trabalhadores, Lula da Silva ressaltou: Se eu aceitar a ideia de não ser candidato, estarei assumindo que cometi um crime. E eu não cometi nenhum crime. No PT já houve quem defendesse um boicote às eleições deste ano se o ex-presidente Lula fosse declarado inelegível na corrida pelo Planalto. Fora daí, políticos como Ciro Gomes, do PDT, reivindicaram apoio à sua pré-candidatura, o que foi rechaçado de bate-pronto pela senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do petismo. Lula continua a ser o único Plano em debate na agenda do PT, revela um parlamentar ligado à cúpula, salientando que em nenhum momento se cogitou outra alternativa.
Em artigo publicado na revista CartaCapital, Maurício Dias enfatiza que ao manter por ora o seu nome na competição, o ex-presidente Lula da Silva desnorteia os inimigos, mesmo sabendo que não participará. Dias acha importante recente pesquisa do Instituto de Pesquisas da Universidade de Pernambuco, Uninassau, que testou, em consulta qualificada, o espírito dos eleitores do Recife, hoje em torno de 1,7 milhão. O cientista político Adriano Oliveira, coordenador da pesquisa, montou um elenco dos pontos principais apresentados pelosentrevistados: 1) A força do lulismo em todas as classes, com maior intensidade na C e na D. 2) O antilulismo, menor do que o lulismo, também está presente em todas as classes; 3) O estado de carência e de irritação das classes C e D com os políticos; 4) A irritação dos eleitores das classes A e B com os políticos.
Segundo Oliveira, os eleitores das classes A e B, universo dos ricos, elogiam Lula. Admitem que ele fez muitas coisas pelo Brasil. Em contrapartida, nenhum eleitor faz menção positiva a Michel Temer. O presidente da República, filiado ao MDB e chamado de ilegítimo pelos petistas, é classificado como horrível, golpista, corrupto e impopular. Diz Maurício Dias: Entre os entrevistados recifenses, talvez esteja a expressão dos eleitores brasileiros, com algumas exceções ideológicas e odiosas, daqui e dali. Nem Geraldo Alckmin nem Ciro Gomes foram citados. Joaquim Barbosa surgiu nas entrevistas como herdeiro tanto dos votos do antilulismo quanto do lulismo. Mas, agora, para ele, é tarde, já que desistiu de concorrer pelo PSB. Mantendo o nome na competição eleitoral, Lula desnorteia os golpistas.
Nonato Guedes, com agências