O senador Romero Jucá, dirigente nacional do MDB, deu ciência dos resultados de uma consulta recente promovida junto aos 27 diretórios estaduais do partido, sobre a hipótese de lançamento de candidatura própria a presidente da República. Somente Paraná e Alagoas foram contrários à proposta. O resultado reforça, dentro do MDB, as projeções de que o caminho está aberto para o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, mas ele precisa melhorar nas intenções de voto.
O MDB ainda tenta resolver um grande impasse o de ter candidatura própria ao Planalto, depois de ter sido coadjuvante nos últimos anos no processo político nacional. Michel Temer somente ascendeu à titularidade por ter sido vice de Dilma Rousseff na disputa de 2014, como já o fora em 2010, e em face da circunstância do impeachment da petista, acusada, entre outras irregularidades, de pedaladas fiscais pelo Tribunal de Contas da União. Temer, entretanto, não conseguiu avançar em termos de popularidade pelo contrário, é um dos governantes mais reprovados da história do Brasil, o que inviabiliza qualquer articulação para projetá-lo como aspirante ao pleito de outubro.
Recentemente, num esforço para celebrar os 24 meses de Michel Temer no poder, a assessoria de comunicação do Planalto foi acionada para criar um slogan que se pretendia emblemático para caracterizar a Era do ex-vice de Dilma: O Brasil voltou, 20 anos em 2. Impresso em convite para uma cerimônia em Brasília, era uma referência ao slogan 50 Anos em 5, de Juscelino Kubitscheck de Oliveira, mas não surtiu efeito nem empolgou. Dada a quase insignificância da vírgula, sumida lá no meio da sentença observou a revista Veja, a equipe de comunicação de Temer desistiu da ideia, que virou piada na internet. Sem a vírgula, ficaria assim: O Brasil voltou 20 anos em 2.
A colunista Dora Kramer, da Veja, comentando a articulação de forças políticas do centro para manter o poder, seja lá como for, mediante controle do Congresso Nacional, ironiza que há um truque antigo sendo ressuscitado: o partido faz profissão de fé na candidatura própria, lança um nome e fica ali, comendo umas goiabas, na definição de uma amiga dela para compasso de espera, rondando a mesa de negociações no aguardo da abertura dos trabalhos de cooptação. Dora lembra que o antigo PMDB fez isso com sucesso há 24 anos. Perdeu feio as duas primeiras eleições presidenciais pós-redemocratização (não obteve nem 5% em ambas) mas esteve no domínio do Congresso, com bancadas expressivas e ocupação de postos-chave, entre os quais a presidência das duas casas legislativas e, consequentemente, no controle de todos os governos, de lá para cá. Algumas vezes nos bastidores, outras em cena aberta no palco.
– A manobra se repete agora, em versão ampliada, quando praticamente todas as legendas enquadradas no campo do chamado centro à direita se preparam para formar um grande bloco a fim de se manter no poder à revelia da demanda da sociedade por renovação na política e independentemente de quem venha a ser presidente. A ideia óbvia é fazer do (a) eleito(a) refém da chamada governabilidade e manter as coisas como sempre foram. Todas as supostas pré-candidaturas, no DEM, PR, PP, PRB, PTB, PSD, Solidariedade e outros, cairão daqui até meados de junho, quando começa a expirar o prazo para a definição das candidaturas de fato, que expira em 15 de julho. Talvez a exceção seja justamente o MDB, agora devidamente autorizado a retomar a antiga sigla, diz Dora Kramer, pontuando que o presidente Temer assumiu a condição de factoide-mor da estação e recuou, mas Henrique Meirelles pode ser mantido no páreo do primeiro turno para efeito de negociação com quem tiver chances. Para a colunista, a impressão apriorística é de que tudo pode ficar como está após as eleições. Mas ela mesma adverte que agrupamentos interessados no avanço do processo político podem furar o cerco e alterar a realidade vigente.
Nonato Guedes