Os meios políticos e sociais paraibanos ficaram enlutados na manhã de hoje com a notícia do falecimento do ex-deputado estadual Aloysio Pereira, descendente de família política tradicional da região de Princesa Isabel, no interior da Paraíba. Aos 95 anos, deputado por várias legislaturas, tendo exercido cargos importantes na Mesa da Assembleia Legislativa e militado na Arena e no seu sucedâneo, o PDS, Aloysio era filho do coronel José Pereira Lima, chefe político e protagonista da chamada República de Princesa, território que ficou livre do Estado por algum tempo, durante confrontos políticos de repercussão nacional, sobretudo na década de 30.
Há anos, Aloysio vinha com a saúde frágil e contabilizava perdas emocionais com a morte de sua mulher e de familiares muito próximos do seu círculo. Estava inteiramente afastado, há anos, da conjuntura política paraibana, chegando a ter participação expressiva nos governos de Wilson Leite Braga, eleito em 1982, e no segundo mandato de Tarcísio Burity, eleito pelo voto em 1986. Figura bastante influente na tomada de decisões partidárias, relacionadas, inclusive, à eleição presidencial, por ocasião do embate travado dentro do PDS entre o ex-ministro Mário Andreazza e o ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf, Aloysio Pereira destacou-se pela seriedade de posições na tribuna do Legislativo paraibano e por intervenções oportunas em defesa de Princesa Isabel e dos municípios da microrregião que representava.
Era um político sensível às carências dos pobres, segundo depoimentos de testemunhas da época de sua atuação, quer na política, quer na imprensa. O coronel José Pereira Lima, pai de Aloysio, tornou-se figura controversa na história do Brasil ao se indispor contra o governo do presidente João Pessoa, que acabou assassinado na Confeitaria Glória em 26 de julho de 1930. Aloysio foi chamado, diversas vezes, em palestras e entrevistas a órgãos de imprensa, a opinar sobre episódios associados à trajetória de seu pai, cuja memória venerou até a morte. Num dos depoimentos, ele desfez boatos espalhados de que no governo de João Suassuna, quando Lampião campeava no Nordeste, arrebanhando adeptos para as milícias de cangaceiros que formou, o coronel José Pereira tenha colaborado com os cangaceiros. Relembrou que, pelo contrário, foi por sugestão do coronel que o presidente João Suassuna criou o Segundo Batalhão da Polícia Militar em 1925, sediado em Princesa, justamente para dar combate a Lampião e a seus protetores. O contingente militar do Batalhão era numericamente pequeno, razão porque o coronel José Pereira recrutou igual número de civis.
Numa sessão especial realizada na Assembleia para homenagear o centenário de nascimento do coronel José Pereira em 1984, o ex-deputado Evaldo Gonçalves foi enfático, em discurso: Não procedem mais aquelas insinuações, muito difundidas, de que José Pereira Lima representou uma época obscurantista, em que o coronelismo respondia pelo atraso dos nossos costumes políticos. As lideranças políticas eram exercidas, como ocorre hoje, em função do interesse público. Existia uma concentração maior de poderes nas mãos dos chamados coronéis, exatamente em razão da ausência do Estado quanto ao provimento dos meios e recursos necessários à manutenção da ordem pública, tarefa que era naturalmente delegada aos chefes políticos do interior, sobre cujos ombros repousavam as responsabilidades de não deixarem faltar nada aos seus amigos.
O ex-deputado Aloysio Pereira foi colega de legislatura de várias figuras que depois se projetaram a cargos mais relevantes na conjuntura política do Estado e do país. A Assembleia Legislativa, por intermédio da Mesa presidida pelo deputado Gervásio Maia Filho (PSB), decretou luto oficial pela morte de Aloysio Pereira, o mesmo se dando com a prefeitura municipal de Princesa Isabel, através do gestor Ricardo Pereira, que enalteceu os benefícios carreados para a população da cidade por Aloysio Pereira, cujo corpo está sendo velado em João Pessoa, com sepultamento previsto para a sua terra natal.
Nonato Guedes