Governadores de Estados do Nordeste, entre os quais o da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB) divulgaram nota responsabilizando a gestão do presidente Michel Temer pela conjuntura de calamidade que o País está enfrentando em consequência da paralisações de caminhoneiros em diferentes pontos do território nacional. Os gestores, que lembram sua condição de integrantes do Conselho Deliberativo da Sudene, rechaçam a tentativa do Planalto de transferir para os Estados a culpa pela situação que provoca desabastecimento em larga escala, suspensão de atividades e serviços essenciais e bloqueio de rodovias estratégicas para o escoamento da produção.
O presidente Michel Temer instituiu uma espécie de gabinete de crise em Brasília para abrir canais de interlocução com representantes dos caminhoneiros, alguns deles refratários a entendimento com o governo. Ao mesmo tempo, Temer requisitou a presença do Exército em alguns pontos para desbloqueio de vias. Enquanto o desabastecimento é latente em supermercados, os reflexos colaterais manifestam-se em outros setores, a exemplo do funcionamento precário de hospitais e unidades de saúde. Ministros do governo Temer não descartaram a possibilidade de ocorrência de lack-out, que se verifica quando os próprios empresários ou donos dos meios de produção incentivam empregados e trabalhadores a cruzarem os braços.
Em meio ao jogo de empurra, pela primeira vez na história recente do País os caminhoneiros estão sendo acolhidos pela população, enquanto o governo de Michel Temer (MDB) é execrado por não ter agido preventivamente a fim de coibir as paralisações e, agora, por não oferecer soluções razoáveis, partindo para uma posição de confronto que pode piorar ainda mais a conjuntura, nas avaliações que são feitas. O próprio presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia, do DEM, que se identifica como pré-candidato a presidente da República nas eleições de outubro, lamentou o quadro de desgoverno que, de acordo com ele, é flagrante, dando margem à insegurança por parte dos segmentos responsáveis da sociedade.
Parlamentares de outros partidos, que compõem a base de sustentação do governo no Congresso (Câmara Federal e Senado) não poupam a gestão Temer de críticas e alguns chegam a exprimir solidariedade aberta aos caminhoneiros, partilhando da opinião dos representantes de entidades do setor de que não há comprovação de anarquia, muito menos indício de que os grevistas estejam sendo insuflados por organizações interessadas em desestabilizar o governo central. O consenso dominante é o de que faltou ao Planalto habilidade para prevenir a hipótese de mobilizações de setores da sociedade civil, risco que vinha se tornando patente em pesquisas realizadas por institutos acreditados, que apontaram altíssima margem de rejeição do governo Temer, rondando a casa dos 70% de desaprovação. O estouro das paralisações se deu numa semana em que o governo deu aval ao pré-candidato do MDB à presidência, o ex-ministro Henrique Meirelles, que se habilitou a ocupar o espaço depois que Temer sentiu não haver espaço para uma virtual postulação sua. Políticos emedebistas avaliam que está se formando um cenário de profundo desgaste político-eleitoral para o oficialismo, atingindo, em consequência, os que estiverem sendo patrocinados na disputa pelo presidente Temer.
Líderes empresariais e sindicalistas estão levando aos políticos uma espécie de Raio-X das suas análises acerca da situação vigente, baseadas na apreensão face ao agravamento da crise e do perigo de um colapso institucional, gerado pela revolta popular contra políticos e partidos em geral. A imprensa mundial tem dado destaque ao que está sendo chamado de caos no Brasil e a Anistia Internacional externou a sua preocupação com a adoção de medidas de força a pretexto de barrar as paralisações, o que porá em risco o sistema democrático brasileiro. As próximas horas são consideradas decisivas para um tira-teima sobre o que se abate, agora, em torno da população. Na Paraíba, dois adversários políticos o governador Ricardo Coutinho e o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) coincidiram na responsabilização do governo federal pelo estado de coisas que se verifica no território nacional.
Nonato Guedes, com agências