O PT da Paraíba é um microcosmo do PT nacional em tese, pelo menos. Deu-se que nos últimos dias, com a perspectiva de consolidação de nomes para compor chapas a eleições no Estado, o PT aquiesceu em apoiar o pré-candidato lançado pelo governador Ricardo Coutinho (PSB), João Azevedo, à sua sucessão, mas muniu-se de tacape e borduna para rejeitar apoio ou voto em candidatos a outros cargos, considerados golpistas por terem se alinhado com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Assim é que o PT levantou objeções a uma possível candidatura do deputado federal Veneziano Vital do Rêgo ao Senado. Hoje, Veneziano é filiado ao PSB do governador Ricardo Coutinho, mas quando esteve até há pouco tempo no antigo PMDB foi favorável ao impeachment de Dilma.
Conversa vai, conversa vem, o governador a quem o PT da Paraíba, genuflexo, é grato por acolher os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff quando já amargavam o ostracismo deixou claro que não toleraria vetos a quem é aliado dele. Nos bastidores, Veneziano cuidou de ficar bem na fita com os petistas, explicando, didaticamente, que migrou do MDB porque já tinha sido punido disciplinarmente pelo fato de ter apoiado o pedido de abertura de investigação no Congresso sobre alegadas falcatruas do governo Michel Temer. Foi o suficiente para a cúpula do PT reavaliar posturas, embalada pela conclusão de que Veneziano, na prática, sofrera represália dentro do MDB por se indispor contra o presidente da República filiado à legenda e que é tido como golpista por ter operado para tramar a queda da Sra. Rousseff.
Ora, estamos diante de uma pantomima da pior qualidade. O Partido dos Trabalhadores já está assim com os que chama de golpistas há muito tempo. E golpistas de alto calibre. Ou, por acaso, o presidente Michel Temer não foi vice de Dilma Rousseff por duas vezes, tendo escapado ao impeachment graças a manobras ardilosas que conduziu nas searas de tribunais em Brasília? Não custa lembrar que o digno ministro paraibano Herman Benjamin, ao proferir voto no STJ sobre o processo de cassação da chapa eleita em 2014 ao Planalto, opinou com limpidez pelo afastamento de Dilma Rousseff e Michel Temer, por entender que foram sócios de empreitadas cujos efeitos sobraram, pelo menos, para ela. Foi antológica a frase de Benjamin de que não seria coveiro de prova viva. Infelizmente, o parecer lúcido, impecável, fundamentado, brilhantíssimo do ministro paraibano não encontrou eco junto a outros ministros estes acólitos do Sr. Michel Temer, e o resultado foi aquele: caiu a Dilma e o Temer ficou, não se sabe bem para que, já que governar ele não governa.
De modo que o purismo que o PT paraibano tentou vender, a pretexto de não se misturar com golpistas, soava falso, inconvincente, inconsistente. O partido, já desgastado e desmoralizado, sem cacife para enfrentar eleições majoritárias estaduais, agiu de forma caricata ao pretextar honradez, lisura, defesa de ética. O primeiro a desmascarar a farsa foi o governador Ricardo Coutinho, que é uma espécie de PhD em PT, partido no qual fez seu Mestrado político e do qual saiu por conhecer as suas entranhas focadas no fisiologismo e, convenhamos, na empulhação ética. Partido que tem mensaleiros nos seus quadros e que defende esses tais mensaleiros com uma convicção de fazer inveja não tem moral para inquinar os outros de golpistas ou para rejeitar companhias que considera esdrúxulas. Urgia refazer essa pantomima e ela foi refeita. O PT não é bobo, nunca foi bobo.
Temos, então, um Partido dos Trabalhadores pragmático, que faz concessões a supostos algozes, que encena gestos moralistas de fancaria, na desesperada tentativa de convencer a opinião pública de que é um Partido ético acima de tudo, diferente dos demais partidos, dos que estão na vala comum da corrupção, do tráfico de influência, da lavagem de dinheiro, do enriquecimento ilícito. Não precisaria ir longe bastaria lembrar que Luiz Inácio Lula da Silva está preso em Curitiba, na Polícia Federal, condenado a doze anos, como mentor de uma organização criminosa, tal como atestado nas alegações que embasaram votos condenatórios de ministros de altas Cortes. O PT precisa sobreviver e, na falta do mecanismo de corrupção, tem que recorrer ao pragmatismo. É por isso que petistas estão juntos e misturados com golpistas. O Brasil tem dessas coisas, sim!
Nonato Guedes