Se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pudesse participar da eleição de outubro poderia emprestar alguma motivação à campanha, por ter um público cativo que o idolatra como um semideus e, no contraponto, uma parcela que o demoniza como demagogo e, agora, corrupto. A campanha não seria, assim, tão insossa como se prenuncia com os candidatos-restantes, entre os quais há desconhecidos, despreparados e sem carisma e há algumas figuras carimbadas que já tentaram ascender ao Planalto mas não lograram êxito porque não sensibilizaram, efetivamente, os segmentos decisivos. No rol desses últimos estão o ex-ministro Ciro Gomes, a ex-ministra Marina Silva e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Ciro é conhecido pelo estilo pavio curto, que lhe dá a aura de um coronel moderno, e sua obsessão é doutrinar camadas influentes do eleitorado de São Paulo, sem que haja indício de que conseguirá lograr êxito na empreitada. É o típico político que acha que São Paulo se mantém como locomotiva do desenvolvimento do Brasil e, portanto, como Estado fazedor de presidentes, embora as tendências do eleitorado estejam muito balanceadas já há algum tempo e Estados como Minas Gerais, ou a região Nordeste, por exemplo, tenham passado a direcionar o meridiano das eleições presidenciais no Brasil. Alckmin, proveniente de São Paulo, não se livra da pecha de picolé de chuchu que lhe foi atribuída em eleição a que concorreu ao Planalto, numa referência à imagem insípida e inodora que parece passar ao eleitorado em geral. Não por acaso, patina feio nas pesquisas porque é tido como expoente da turma envolvida ou associada a escândalos que a opinião pública decididamente repudia.
Marina Silva nunca passou credibilidade ao eleitor médio, devido à incongruência de suas posições e a um certo desconhecimento que passa acerca de problemas cruciais do país. Na recente crise que afetou o Brasil com a paralisação dos caminhoneiros, dirigiu críticas a esmo, tanto a grevistas como às Forças Armadas, e não articulou uma proposta sequer para o impasse. O que Marina disse foi isto: Propor soluções para um problema complexo requer legitimidade para negociar em nome da sociedade. Talvez não lhe falte legitimidade, mas com certeza há muita ignorância da parte da ex-senadora e ex-ministra sobre as alternativas a serem adotadas diante de uma emergência dessa natureza. Fora desse mini-círculo de postulantes, aparece o Jair Bolsonaro, um medíocre ex-capitão do Exército que tenta se beneficiar da insatisfação de boa parcela do eleitorado com políticos corruptos. Na prática, Bolsonaro é totalmente despreparado para governar o País. Teve que cancelar uma palestra nos Estados Unidos porque teria que falar sobre economia e ele não tem nada a propor no campo da economia. Ainda assim, o Bolsonaro faz a cabeça de alienados que acreditam no primeiro embusteiro que aparece. Veremos como será o comportamento do eleitor no curso da campanha.
Ao todo, onze nomes são listados como presidenciáveis pela imprensa, embora haja possibilidade concreta de desistência de um ou outro, ou de vários, no curso da disputa. Os demais postulantes, em tese, são Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, pré-candidato do MDB, Álvaro Dias, senador e ex-governador do Paraná, Flávio Rocha, empresário das lojas Riachuelo, Rodrigo Maia, presidente da Câmara Federal e expoente do DEM, Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Teto,João Amoêdo, de um denominado Partido Novo, que abriga velhas ideias e propostas e Manuela D!Avilla, do PCdoB. Está faltando um nome do PT, mas o PT insiste em manter Lula como candidato mesmo estando ele preso e condenado. No final das contas, teremos este ano uma eleição presidencial que não sacode o eleitor, não mexe com suas emoções. Uma prova de que, lamentavelmente o cenário político brasileiro está empobrecido, se compararmos as opções de agora com as opções da primeira eleição direta pós-regime militar, em 89, quando Lula estava despontando, junto com Fernando Collor (depois alvo de um impeachment), e líderes carimbados como Ulysses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola, constataram que já não havia espaço para eles na cena nacional. A eleição de 2018 é uma das mais fracas de que se tem notícia na história política recente do Brasil.
Nonato Guedes