Numa das recentes batalhas eleitorais na Paraíba, na qual teve que se envolver, o deputado federal Marcondes Gadelha (PSC) fez uma crítica inteligente a políticos de posições dúbias que, segundo sua interpretação, ambicionavam gozara folga de solteiro com o conforto de casado. A paródia insinuava que tais personagens, em confronto com situações antípodas numa mesma conjuntura, optavam naturalmente pelo bônus, jamais pelo ônus do poder. São aquelas pessoas que fogem de rótulos quando estes não são favoráveis e posam de independentes e descolados, embora tenham participado ativamente ou não de certas políticas de governo engendradas e que, infelizmente, não surtiram o êxito aguardado.
É o que se dá, mutatis mutantis, no cenário de hoje, com o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, lançado candidato a presidente da República pelo MDB mas que já tomou a precaução de avisar que não aceita ser rotulado como candidato do governo Temer nem do mercado. É uma postura oportunista, mas explicável: o governo Temer e o mercado estão em desgraça perante a opinião pública brasileira, juntamente com setores do Judiciário, do Congresso Nacional e de partidos políticos. Exibir-se no Guia Eleitoral com o rótulo de candidato do Temer é o passo mais curto para o suicídio, nas urnas, de quem corteja a cadeira do poder no Palácio do Planalto. Trata-se de um gesto de autofagia, consideradas as condições de temperatura e pressão na atualidade. Pessoalmente, o próprio presidente declinou de um projeto de candidatura à reeleição porque sentiu que a maré não lhe favorece.
Uma das últimas pesquisas de que se tem conhecimento, realizada por instituto de nomeada na praça, contabilizou estratrosféricos 70% de rejeição popular ao governo do presidente Michel Temer, que se investiu com o impeachment da petista Dilma Rousseff, hoje ralando dentro do Partido dos Trabalhadores para ser pelo menos candidata a senadora por Minas Gerais. Dilma já deixou claro que não se sentiria bem convivendo na Câmara dos Deputados com parlamentares que votaram em alto e bom som pelo seu impeachment. É um dado relativo porque houve senadores ostensivamente favoráveis ao seu impeachment, e houve deputados, como o paraibano Veneziano Vital do Rêgo, que votou pelo impedimento de Dilma e hoje ambiciona ser senador pelo nosso Estado, o que o colocaria lado a lado com Dilma se lograssem, ambos, vitoriar nas urnas em outubro. Mas Dilma é Dilma, inventora da Mulher Sapiens, da patriótica e efusiva saudação à mandioca e adepta fervorosa da estocagem de vento, como solução alternativa a questões energéticas e ambientais no Brasil.
No que diz respeito a Henrique Meirelles, por incrível que pareça, não é um nome ruim para gerir o Brasil, independente do apoio ou da torcida de Michel Temer, que não apita nada nem em campo de várzea. Meirelles é articulado, não fosse ligado à área produtiva e ao segmento econômico brasileiro e internacional. Não é salvador da Pátria nem consta no seu currículo a função de mágico. Exatamente por essas lacunas é que não protagonizou atitudes espetaculares que resultasse em popularidade para o governo Temer. Pelo contrário, quando parecia estar ganhando fôlego, Temer e seu governo desembestaram no barulho da paralisação dos caminhoneiros e jogaram fora todo o capital político que esperavam amealhar. Por via das dúvidas, Temer já bateu em retirada. Anda em busca de um candidato que defenda o seu legado, prodigalidade que talvez só seja conhecida compulsoriamente pela primeira-dama Marcela e só a posteriori venha a ser apresentada a Michelzinho, ainda a léguas de distância do projeto de aposentadoria pessoal. Meirelles vai defender a parte boa, se que é haja parte boa da gestão Temer (ele garante que sim). Em relação ao restante da obra, fica para ser embalado por quem pariu Mateus.
O cenário folgado e confortável a que Meirelles aspira pode virar pó ou não passar de miragem na realidade brasileira hoje. Nem quem está preso, como Lula, nem quem está solto, como Temer, pode achar-se depositário da confiança de parcelas do eleitorado brasileiro. Na média, o eleitor está é com nojo de certos políticos carimbados.
Nonato Guedes