Embora tenha sido ministro da Fazenda do governo do presidente Michel Temer (MDB) até abril, o pré-candidato a presidente da República Henrique Meirelles, filiado ao MDB, revela que deseja tirar o rótulo de candidato do governo e do mercado ao Planalto em outubro. Numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele disse que sua candidatura não representa especificamente o governo Temer, e, sim, o seu currículo pessoal e sua atuação na iniciativa privada e no setor público.
– Estou tirando o rótulo. Por exemplo, não sou o candidato do mercado, sou o candidato de Brasília. A minha proposta é a proposta do meu histórico adiantou. Recém-filiado ao MDB, Meirelles foi lançado oficialmente como presidenciável no mês passado pelo próprio Temer, que desistiu de tentar se reeleger. Na ocasião, o presidente cobrou união dopartido que enfrenta resistências internas, como a do presidente do Senado,Eunício Oliveira (CE). Em resposta ao fato de ter sido integrante do governo até pouco tempo, o ex-ministro repete o mote da sua campanha, de que é candidato da renda, do crescimento, do emprego e da inflação sob controle. Mas acredito que as reformas feitas nesse governo são fundamentais e no Ministério da Fazenda conseguimos neste governo retirar a economia da maior recessão da história e criar dois milhões de postos de trabalho. São dados inquestionáveis, afirmou Meirelles, que, no entanto, desconversa sobre a participação de Temer na campanha. Isso é uma escolha dele. Minha campanha está aberta a todos, não existe restrição, disse. O presidente já avisou que não cogita participar diretamente dos palanques eleitorais, mas vem cobrando um candidato alinhado com a defesa do que chama de legado do seu governo.
De acordo com Meirelles, a recuperação mais lenta da economia do que o esperado não vai prejudicar a sua candidatura. Pelo contrário, diz ele, pode beneficiá-lo porque acontece justamente no momento em que se intensifica o debate eleitoral. A despeito de pretextar independência na sua campanha, Henrique Meirelles não abre mão de participar de solenidades presididas por Michel Temer, como a entrega de equipamentos de interesse público, eventos que, conforme analistas, podem render dividendos eleitorais. Desde que foi lançado como candidato a presidente da República, Henrique Meirelles tem percorrido dezenas de Capitais e cidades influentes, participando de intervenções a respeito da conjuntura nacional. Num debate de que participou, junto com outros presidenciáveis, em programa de rádio, Meirelles ficou praticamente isolado ao defender o que tratou como pontos positivos da gestão empalmada por Michel Temer.
Temer foi investido no governo com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, decretado pela Câmara dos Deputados. Ele alimentou a expectativa de vir a ser candidato à reeleição, confiante na receptividade de propostas de reformas encaminhadas à apreciação do Congresso Nacional e no saldo de alguns indicadores positivos que estariam sendo oferecidos pelo mercado e pela economia. A situação, entretanto, desandou para o governo quando da discussão da proposta da reforma da Previdência Social, que gerou profunda controvérsia em segmentos da população brasileira. O presidente constatou, nesse episódio, a fragilidade do seu controle sobre a base de sustentação política oficial na Câmara e Senado. Foi informado de que com a proximidade da campanha seu governo se tornaria mais indefensável, pelo risco de prejudicar candidaturas nos Estados, em virtude da impopularidade de Temer, cuja rejeição já rondou os 70% em algumas pesquisas feitas por institutos especializados. Ultimamente, a paralisação dos caminhoneiros, com graves consequências para a economia e para a normalidade da vida do cidadão comum brasileiro, desgastou ainda mais fortemente o governo do presidente Temer, que optou, providencialmente, por não cogitar candidatura própria, embora mantenha a pretensão de influenciar no resultado das eleições.
Nonato Guedes, com agências